30. VAMOS ACABAR COM ELES
O primeiro raio de sol entrou pelas persianas entreabertas do quarto de hospital, riscando a parede de dourado. Miguel acordou sob aquele clarão tímido, com o pescoço latejando depois de passar a noite inteira encolhido na poltrona. Por um segundo, precisou lembrar onde estava; então seus olhos pousaram na cama e a tensão afrouxou— Deise estava desperta, encarando‑o, embora o olhar ainda mostrasse cansaço e confusão.
— Bom dia… — sussurrou ele, inclinando‑se para acariciar‑lhe a face. A voz traiu um alívio imenso. — Você está sentindo fome? Prometo voltar rápido com o médico.
Antes que ela respondesse, Miguel saiu apressado pelo corredor. Não queria que ela percebesse o nó de indignação que lhe subia pela garganta cada vez que pensava na noite anterior.
O médico responsável, doutor Crawley, esperava com uma pasta volumosa.
— Doutor Duarte, os resultados chegaram. — Abriu o prontuário e apontou para o laudo toxicológico. — Detectamos concentração elevada de benzodiazepínicos combinados