Narrado por Clara – primeira pessoa
O carro do hotel me deixou na calçada, mas eu não subi.
Fiquei ali por minutos — ou talvez horas, não sei. Quando finalmente entrei e subi ao quarto, travei a porta e despenquei na cama. Fiquei de roupa, sapato, alma. Deixei o silêncio cair sobre mim como terra num túmulo.
Na manhã seguinte, Lúcio apareceu.
Quando abri a porta e o vi, algo em mim quebrou de vez.
Ele me puxou pelos ombros e me abraçou. Forte. Sem perguntas. Sem explicações.
— Ele me matou, Lúcio. — murmurei, afundada no peito dele. — E teve coragem de olhar nos meus olhos enquanto fazia isso.
— Eu disse que ele não merecia você.
— Ele nunca me amou — minha voz saiu rouca, esfarelada. — Eu era só... uma distração.
— Você ainda quer salvá-lo?
— Quero.
Ele se afastou. Andou pelo quarto, passando a mão pelos cabelos, furioso.
— Você tem noção do que ele se tornou? Ele manipula. Ele destrói. Ele não sente mais nada, Clara. Nada.
— Eu sei.
— Então por quê?!
— Porque alguém precisa lembrar