As sirenes chegaram às 5h43 da manhã.
A ambulância cortou a estrada ainda escura como uma navalha, e levou Ravena, desacordado, com o rosto coberto de sangue e as pernas esmagadas. Eu não fui com ele. Marcelo, sim — por obrigação legal, por protocolo. Mas eu? Eu só assisti de longe, parado ao lado da mata ainda úmida, com as mãos sujas de terra e uma dor tão antiga no peito que parecia ter nascido comigo.
Quando retornei, Isabella ainda estava acordada. O sol despontava pelas janelas, e o rosto dela, banhado por aquela luz tímida, era o retrato do que sobrou: exaustão, medo, e uma ternura irreversível ao olhar Miguel dormindo.
— Ele tá bem? — perguntei, a voz falha.