Narrado por Clara — primeira pessoa
Era quase meio-dia quando cheguei.
O prédio era de vidro e aço, moderno, impecável — como tudo que o Pedro Ferraz toca. A fachada refletia o sol com arrogância. E eu, com o coração rangendo dentro do peito, empurrei a porta giratória como quem invade uma guerra com o peito aberto.
Ninguém me parou.
Não sei se foi meu olhar, ou o caos latejando ao meu redor.
Mas quando a secretária tentou me barrar, eu já tinha passado. Entrei na sala de reuniões sem bater. A porta bateu na parede com um estrondo.
Pedro estava de costas, debruçado sobre papéis. Vestia preto. Sempre preto. Como um luto que nunca terminou.
Ele virou devagar. E o olhar dele… não se moveu.
— Clara. — disse, seco. Sem surpresa. Sem nada.
— Que porra você está fazendo, Pedro? — cuspi.
Ele se encostou na mesa, cruzou os braços.
— Não era pra você estar aqui.
— Eu estou. Porque você me deixou sem opção. Porque você me deixou sozinha com o gosto do seu desprezo e a porra do seu corpo grudado