Mundo de ficçãoIniciar sessãoOs dois meses passaram mais rápido do que Ágata gostaria. No início, ela contou os dias. Depois, as semanas. Até que, pouco a pouco, a esperança começou a parecer apenas isso: esperança.
Henrique não voltou, não ligou, não mandou mensagem. E Ágata entendeu que não podia se dar ao luxo de viver de promessas. Ela era a melhor vendedora da loja. Precisava daquele emprego. Morava de aluguel em uma casa pequena e simples, onde dividia as despesas com a mãe, Bárbara, e cuidava do bem mais precioso da sua vida: Filipe, seu filho de apenas três anos. Tudo o que fazia era por ele. Cada esforço, cada silêncio engolido, cada dia difícil. Naquela manhã, o calor era sufocante. O termômetro parecia marcar algo próximo dos trinta e cinco graus. Ainda assim, Ágata seguiu sua rotina como sempre. Uniforme, tranças bem presas, perfume discreto. Mais um dia comum. Até que Henrique entrou pela loja. — Bom dia, Ágata. Como você está? — perguntou, com o mesmo sorriso tranquilo. Ela se virou surpresa, mas sorriu largo, hospitaleira como sempre. — Bom dia, Henrique. Apesar do calor, estou bem. — Está quente demais hoje — comentou ele. — E olha que o dia mal começou. Vim aqui não para comprar… apesar de que da última vez também não comprei nada — disse, rindo de leve. — Vim para te perguntar novamente se você gostaria de trabalhar comigo. O coração de Ágata acelerou. Então era real. Ela respirou fundo antes de responder. — Eu preciso pensar com cuidado. Tenho medo de não ser a pessoa que você precisa… e de acabar sendo demitida. Tenho um filho pequeno, totalmente dependente de mim. Sou eu quem garante tudo para ele: casa, comida, roupa. Tenho medo de ficar desempregada e não conseguir oferecer o mínimo. Ele não tem culpa das escolhas que fiz. Enquanto falava, lembranças vieram como ondas. Ágata foi mãe aos vinte e três anos, após uma separação difícil. Um relacionamento marcado por humilhações, manipulação e feridas invisíveis. Quando sua mãe, Bárbara, descobriu o que ela vivia, não hesitou. Junto de André, seu pai, foi buscá-la no Rio Grande do Sul e a trouxe para São Paulo, mesmo contra sua vontade, para salvá-la de um sofrimento que a consumia. Fragilizada, sem se reconhecer, Ágata encontrou no primeiro emprego um recomeço. Fez amizades, voltou a estudar, redescobriu sua inteligência e sua força. Mas fechou o coração. Criou um escudo. Decidiu que sua prioridade seria apenas uma: ser mãe. Henrique ouviu tudo com atenção. Percebeu a insegurança, o peso, o medo. — Eu preciso de você — disse, com firmeza. — Minha esposa e eu estamos em crise. Trabalho demais, chego tarde, mal vejo minha família. Preciso de ajuda para equilibrar tudo. Quero você comigo. Pense com calma. Te dou uma semana, mas gostaria que você começasse ainda este mês. Ágata pensou, conversou, chorou e pediu conselhos. Poliana, sua única amiga próxima, foi direta: era uma oportunidade que ela não podia recusar. Ela não esperou uma semana. Naquela mesma noite, mandou uma mensagem curta, mas carregada de coragem para Henrique: Eu aceito o emprego. E, naquele instante, o que era apenas esperança começou, enfim, a se tornar realidade.






