Início / Romance / Desejo Proibido do Meu Chefe / A energia que não se explicava
A energia que não se explicava

Ágata acordou cedo, como de costume, mas havia algo diferente naquela manhã. Talvez fosse o ar. Talvez fosse ela.

Tomou seu banho com calma, escolheu a roupa com mais atenção do que o habitual. Calça de alfaiataria bem cortada, camiseta justa ao corpo, valorizando as curvas naturais sem exagero. Saltos altos, brincos delicados, pele hidratada. Diante do espelho, hesitou por um instante… e decidiu passar um perfume mais marcante. Não por alguém específico. Pelo simples desejo de se sentir inteira.

Arrumou Filipe, levou-o à escola, beijou sua testa e seguiu para o trabalho.

Henrique chegou pouco depois.

Antes mesmo de vê-lo, Ágata sentiu sua presença. O perfume chegou primeiro. Forte, envolvente. Quando ele apareceu, estava imponente, seguro, o corte de cabelo recém-feito ressaltando ainda mais seus traços. Havia nele uma marra natural, mas naquele dia… havia leveza.

Diana não estava na cidade. Havia ido visitar familiares e não voltaria naquele dia. E Henrique parecia outro homem. Mais solto. O sorriso largo surgia fácil, quase juvenil. Como alguém que havia acabado de sair de uma gaiola invisível.

Ele cumpriu compromissos fora do escritório e apareceu apenas no fim da tarde. Precisava entregar um trabalho naquele mesmo dia. Ágata, percebendo a urgência, ofereceu ajuda, mesmo estando próximo do horário de saída.

Foram para a sala dele.

O ambiente era silencioso. Apenas o som do teclado, papéis sendo organizados, olhares trocados rapidamente para alinhar informações. Tudo profissional. Tudo correto. Ainda assim, algo vibrava no ar. Uma energia difícil de nomear.

O horário passou. A noite chegou sem pedir licença.

— Acho melhor eu ir — disse Ágata, finalmente, quebrando o silêncio. — Não quero dar motivos para você e a Diana brigarem.

Henrique levantou os olhos devagar. O olhar era sincero, quase vulnerável.

— Fica tranquila — respondeu. — Ela não está na cidade hoje. Fica aqui comigo mais um pouco.

Ágata sentiu o coração acelerar de leve. Não havia nada de errado naquele pedido. Nenhuma palavra atravessada. Nenhum gesto inadequado.

Mas havia algo novo.

Ela percebeu naquele instante que não era o que estavam fazendo…

era como estavam se sentindo ali.

Dois adultos em silêncio.

Um espaço seguro.

Uma presença que aquietava.

E Ágata entendeu, com um frio suave na barriga, que aquela energia estranha não vinha de fora.

Ágata permaneceu ali. Não por obrigação. Não por insistência. Mas porque, de alguma forma, aquele pedido simples a desarmou.

Ela voltou a se sentar, ajustou alguns documentos, revisou números, organizou arquivos. Henrique caminhava pela sala, às vezes parava atrás dela para acompanhar a tela, outras se afastava e se sentava à mesa. Nenhum toque. Nenhuma aproximação indevida. Ainda assim, o ar parecia mais denso.

O silêncio já não era apenas silêncio. Era presença.

Henrique observava Ágata concentrada. O jeito firme com que digitava, a postura segura, a serenidade que ela transmitia. Percebeu algo que talvez sempre estivesse ali, mas que só agora se revelava com clareza: com Ágata, ele descansava. A mente desacelerava. O peso diminuía.

Ela, por sua vez, começou a notar pequenos detalhes. O tom mais baixo da voz dele. O olhar que demorava um segundo a mais. A forma como ele respirava fundo, como se estivesse exatamente onde queria estar.

Em determinado momento, Henrique quebrou o silêncio.

— Você sabia que, desde que entrou aqui, tudo ficou mais organizado? — disse, sem teatralidade. — Não só os papéis.

Ágata levantou o olhar, surpresa.

— Estou só fazendo meu trabalho.

— Eu sei — respondeu ele.

— Mas faz diferença.

Ela sorriu de leve. Um sorriso contido, cuidadoso. Não queria interpretar demais. Não queria criar algo que não existia. Ainda assim, sentiu um calor suave subir pelo peito.

O relógio marcava tarde demais.

— Agora eu realmente preciso ir — disse ela, levantando-se.

— Amanhã cedo estou aqui de novo.

Henrique assentiu, mas não respondeu de imediato. Caminhou até a porta, abriu para ela, e por um instante ficaram frente a frente. Próximos o suficiente para sentir o perfume um do outro. Próximos demais para fingir que nada estava acontecendo.

O tempo pareceu desacelerar.

Nenhum dos dois se moveu.

Ágata foi a primeira a dar um passo para trás.

— Boa noite, Henrique.

— Boa noite, Ágata.

Ela saiu. Caminhou pelo corredor tentando controlar a respiração. O coração batia mais rápido do que deveria. Não havia culpa. Não havia erro. Mas havia consciência.

Henrique fechou a porta lentamente. Encostou-se nela por alguns segundos, os olhos fechados, como se precisasse se recompor.

Naquela noite, nenhum dos dois dormiu como de costume.

Porque ambos haviam percebido a mesma coisa, no mesmo instante:

Algo havia mudado.

E, a partir dali, fingir que era apenas trabalho exigiria mais força do que admitir a verdade.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App