Difícil de acreditar

Ágata não acreditava. Um homem como Henrique não olhava para mulheres como ela daquele jeito. Pelo menos era o que repetia para si mesma, como um mantra de proteção. O clima estranho existia, sim, mas ela o encaixava na gaveta das coincidências. Seguiu firme, profissional, pontual. Trabalho era trabalho.

No fim de semana, porém, aceitou o convite de Poliana. A mãe insistira, quase como uma bênção: era hora de sair, rir, se lembrar de si. Ágata vestiu a blusa verde, o decote revelando curvas que ela costumava esconder do mundo. Saia curta, salto decidido, maquiagem intensa. No espelho, havia luz. E havia perguntas.

Na balada, música alta, corpos em movimento. Ágata tirou uma foto, distraída, sorrindo com a própria coragem. Postou. Só depois percebeu o detalhe esquecido: Henrique podia ver. Pensou em apagar, mas deixou. Talvez cansaço. Talvez desafio.

Ele viu. Não reagiu. Observou. A imagem ficou com ele mais tempo do que admitiria.

Na segunda-feira, tudo parecia igual. Café preparado, tarefas em ordem, a rotina como um trilho seguro. Henrique chegou diferente. Roupa fora do padrão, perfume mais denso, olhar afiado. Um “bom dia” breve e sumiu na oficina.

Ágata sentiu o ar mudar.

Continuou trabalhando até ele voltar. Sem camisa, suado, a presença ocupando o espaço antes mesmo da voz.

— Pode atender um cliente pra mim? Encaminhei pra você.

Ela congelou. Os olhos traíram por um segundo. O corpo respondeu antes da razão. Ágata abaixou a cabeça, murmurou um “claro” e se virou para a mesa.

Henrique saiu. O silêncio ficou.

Ágata permaneceu ali, mãos imóveis sobre o teclado, o coração fora do ritmo. Nunca havia perdido o controle assim. Nunca havia permitido que alguém atravessasse suas defesas tão facilmente.

Não era só atração. Era o perigo de perceber que talvez não fosse coisa da sua cabeça.

E essa ideia, sozinha, já era suficiente para colocá-la em colapso.

O corpo de Ágata não pediu permissão. Ele reagiu antes que ela pudesse organizar a culpa, antes que a razão levantasse defesas. A lembrança de Henrique suado atravessava sua mente como um toque prolongado demais para ser ignorado. Ela sentia sua calcinha molhar, uma resposta quente, íntima, que a fazia cruzar as pernas com força sob a mesa.

Respirava fundo, tentando se recompor, mas bastava fechar os olhos para reviver a cena. O contraste entre a autoridade dele e aquela exposição crua, quase descuidada. O poder misturado à vulnerabilidade. Isso a desarmava.

Ágata se odiava por isso. O nome da esposa surgia como um alerta moral, mas o desejo não obedecia regras. O corpo lembrava do cheiro, da proximidade, da energia masculina ocupando o espaço sem pedir licença. Sentia-se descoberta, como se ele tivesse percebido algo nela que nem ela mesma admitia.

Quando Henrique passou novamente pelo corredor, totalmente vestido agora, o simples som de seus passos fez seu estômago revirar. Ele não tocou nela. Não disse nada. Ainda assim, foi como se tivesse feito tudo.

Ágata percebeu então, com um frio delicioso descendo pela espinha:

não era mais só curiosidade.

Era vontade contida.

E contenção, ela descobria, podia ser perigosamente excitante.

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