Capítulo – O Inventário e a Sombra
O ar da Sala Fria 2 tinha uma densidade quase palpável. O frio úmido vinha do concreto molhado e das paredes metálicas, mas também de algo invisível, como se aquele lugar respirasse segredos guardados demais. As lâmpadas antigas pendiam em fios gastos, oscilando com o vento que se infiltrava pelas frestas, projetando sombras que pareciam se mover por conta própria.
A câmera imaginária se aproxima em close: a mão de Helena deslizando lentamente sobre uma das caixas. Seus dedos finos, adornados com anéis discretos, tocam os símbolos gravados na madeira. Um rubi pequeno, preso em sua orelha, brilha como um ponto de fogo contra a escuridão — cada reflexo parecia ter vida própria.
Rafael, em silêncio, a observava. A luz de sua lanterna iluminava o rosto dela em ângulos dramáticos, destacando a curva dos lábios, o olhar profundo e impenetrável. Ele se inclinou para examinar as inscrições: círculos entrelaçados, quase como pétalas de uma flor proibida.
— De