O vento vinha do leste.

Trazia um sal antigo, cheiro de ferro e maresia.

Rafael ficou parado diante do mar por tempo demais, sem perceber que as cordas dos barcos, atrás dele, batiam no ritmo exato de seu coração.

As luzes do cais tremeluziam como olhos inquietos, e, por um momento, ele teve a impressão de que o mundo inteiro respirava mais lento.

Helena havia desaparecido há apenas algumas horas, mas o tempo já se comportava como se tivesse passado uma vida inteira.

O inventário — aquele amontoado de folhas amareladas e nomes em línguas que ele não dominava — ainda pesava dentro da pasta, mas era outro peso, um peso vivo, como se o papel guardasse calor.

Ele sabia que havia algo ali que não se limitava a contabilidade, que não cabia em protocolos.

Mas, ao mesmo tempo, não tinha palavras.

O silêncio era o único idioma capaz de falar com o que restara dela.

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A chuva começou fina, quase bruma.

Rafael ergueu o colarinho do casaco, mas não se moveu.

Do outro lado do cais, as lonas estala