Capítulo 39 — Sala Fria 2
O amanhecer de Santa Clara não tinha cor; tinha ruído. Um zumbido grave, constante, que parecia vir do subsolo e atravessar as placas do cais. Rafael chegou cedo demais de propósito. Descobriu que os minutos antes do horário marcado são úteis para o corpo desistir das desculpas. Ficou na marquise do bloco de serviços, vendo a névoa abrir passagens para empilhadeiras e funcionários sonâmbulos. O crachá “VISITANTE” pendia do bolso como uma confissão.
A chave no bolso interno parecia mais pesada do que metal. Na etiqueta plástica, a tinta fria: Sala Fria 2 — 06:10. Era uma agenda e um veredito. Ele ensaiou as respostas que daria a si mesmo, caso a porta abrisse para algo que mudasse o tamanho de sua própria cabeça.
— Não olhe para pessoas. — A voz veio por trás, baixa e irônica. Lucía vestia casaco azul-marinho e segurava uma prancheta com a autoridade de quem aprendeu a mandar sem subir o tom. — Olhe para procedimentos. Pessoas falham, protocolos confessam