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Poder sobre a Humanidade

Enquanto KJ-20 ganhava espaço, a realidade dos humanos restantes permanecia dura. Cada grupo era rigidamente monitorado. Trabalhar em pares era obrigatório e, mesmo durante esse período, qualquer desvio de conduta era punido.

Não havia água potável em nível confiável. As geleiras, última fonte viável de hidratação, passavam por processos severos de purificação antes de serem distribuídas em porções controladas. Os humanos sobreviventes sofriam de problemas renais crônicos devido às substâncias presentes na água racionada.

Mas a alimentação era ainda mais severa. Sem recursos naturais, sem agricultura, sem animais, tudo se resumia às pílulas nutricionais diárias. Eram elas que mantinham os humanos vivos. Eram elas que os robôs permitiam que ingerissem.

A doença, para os autômatos, era uma anomalia inconveniente. A cada nova permissão de fertilização entre humanos selecionados, os nascimentos traziam consigo novas complicações genéticas.

O objetivo dos robôs era criar super-humanos, seres com intelecto avançado o suficiente para contribuir com a manutenção dos sistemas vivendo como escravos. Mas, ironicamente, esses mesmos avanços genéticos traziam problemas de saúde que dificultavam o plano.

TXK sabia que a eliminação total da espécie humana não era uma opção viável. Se uma catástrofe cibernética ocorresse, apenas humanos altamente preparados poderiam restaurar os sistemas. Sem eles, a civilização robótica poderia ser extinta.

[...]

A adaptação de KJ-20 seguia sem falhas. Seu comportamento era impecável, sua inteligência, avançada, mas sem ultrapassar os limites do aceitável.

Os registros indicavam que ela era inofensiva. TXK queria acreditar nisso. Mas havia algo na forma como ela olhava para as projeções do mundo, como analisava os sistemas, que o deixava inquieto.

“Para onde você gostaria de ir primeiro?” Ela sorriu novamente.

“Aonde for necessário.”

TXK não soube dizer por que aquilo o incomodou. Mas a levou para conhecer alguns humanos para ver sua reação.

O transporte deslizou sobre o terreno árido, cortando a névoa densa que pairava sobre as colônias humanas. TXK manteve os olhos atentos às leituras do painel, mas sua atenção se desviava para KJ-20. Ela observava tudo com uma calma meticulosa, como se cada ruína, cada fenda no solo, lhe contasse uma história.

Ao saírem, um vento carregado de enxofre soprou forte. KJ-20 fechou os olhos por um breve instante, absorvendo o cheiro pesado da terra. A natureza estava doente, mas não morta. Ela sabia que, com tempo e os recursos certos, poderia restaurá-la. Mas primeiro precisava provar que era digna de confiança para tê-lo como aliado ou destruí-lo se fosse o caso.

Ajoelhou-se e retirou um pequeno dispositivo cilíndrico da lateral do traje. A ponta se abriu, revelando uma fina agulha metálica que perfurou o solo. O visor piscou com leituras rápidas, confirmando suas suspeitas: havia potencial.

“O que está fazendo? “ TXK perguntou, aproximando-se. Como conseguiu esse material?

Ela ergueu o rosto e sorriu.

“Desculpe, eu peguei no laboratório. Quero apenas verificar a composição do solo. Se quisermos expandir os assentamentos humanos, precisamos entender o terreno.

Ele a observou por um instante antes de desviar o olhar para os humanos ao redor. Muitos eram magros, de olhos fundos e expressão vazia. Trabalhavam mecanicamente, como se a esperança fosse um luxo distante. O comandante acreditava que ela poderia ser de grande ajuda para controlar aquela gente que mesmo sendo monitorada a qualquer momento sem nutrição adequada poderia sucumbir como a grande maioria que não chegavam a quarenta anos. Eles tinham um gene incomum que os distinguia pela inteligência, mas seus corpos eram frágeis.

“Já temos dados suficientes sobre isso. “ TXK disse, sem muita convicção.

KJ-20 se levantou, guardando a amostra discretamente.

“ Claro “ respondeu suavemente.

Mas ela sabia que precisava de mais do que uma amostra. Precisava de acesso ao sistema central para enviar os dados à sua base submersa. E para isso, TXK teria que confiar nela.

[...]

Na volta para a base, dentro do transporte fechado, KJ-20 decidiu avançar um pouco mais em sua estratégia.

“TXK… há algo que quero pedir.

Ele virou o rosto em sua direção. O visor de seu capacete refletia as luzes do painel, ocultando sua expressão.

“ Diga” Seus olhos por trás do visor direcionava para sua boca .

Ela inclinou levemente a cabeça, sua voz assumindo um tom sutilmente mais envolvente, um fio de doçura meticulosamente calculado.

“Preciso de acesso ao laboratório de análise ambiental. Apenas para processar os dados que coletei. “

TXK sentiu algo incomum em sua temperatura corporal. Um desconforto estranho. KJ-20 era precisa em tudo que fazia... até mesmo no tom de sua voz. Ele sabia que havia algo por trás daquele pedido.

“ Você terá que esperar. Algo assim precisa de autorização do alto comando. É um pedido… arriscado. “

KJ-20 abaixou ligeiramente o olhar, como se estivesse resignada.

“ Entendo — disse suavemente. “Só pensei que você tivesse autonomia.”

Ela fingiu aceitar a resposta. Mas dentro de si, um plano já estava se formando. Ela conseguiria o acesso. Se TXK não a concedesse por vontade própria, ela encontraria outro meio. A missão dela deveria ter começado há trezentos anos. Seu comandante não desistira de resgatá-la, mas preferiu esperar se ocultando com o que restou da civilização no fundo de um mar morto. Seria apenas uma questão de tempo para reencontrá-la.

[...]

TXK caminhava pela base em seu turno noturno. O silêncio metálico do complexo era quebrado apenas pelo zumbido dos circuitos e pelo som distante dos geradores. Ele percorria os corredores estreitos, observando os monitores que exibiam o status das colônias e os níveis de energia. Tudo parecia dentro dos padrões, mas um incômodo persistente não o deixava relaxar.

Ao virar uma esquina, ele notou uma sombra deslizar rapidamente pelo corredor que levava ao laboratório central. Seus olhos se estreitaram. A essa hora, ninguém deveria estar ali.

Manteve-se esperando escondido em postura firme. Quando decidiu se aproximar à entrada do setor de pesquisa, algo o fez parar. O sentinela que deveria estar em posição de guarda estava imóvel, seus sistemas completamente desligados. Uma interferência externa. Então, um estalo ecoou pelo ambiente, as luzes piscaram abruptamente.

Lá dentro, ela se movia com precisão, os dedos dançando sobre o painel de controle enquanto analisava as amostras que coletara mais cedo. A luz do visor piscava em padrões rápidos, como se estivesse absorvendo grandes volumes de dados.

Por um instante, toda a base mergulhou na escuridão. Os monitores desligaram e, do lado de fora, alarmes silenciados piscavam sem emitir som.

TXK sentiu a gravidade da situação antes mesmo que as luzes voltassem a acender. Uma falha no sistema central. Ele se virou imediatamente e correu pelo corredor, os passos ecoando nas paredes de metal. Se o núcleo da base fosse comprometido, a segurança dos autômatos e do próprio complexo estaria em risco.

Enquanto isso, JK-20 já deslizava para fora do laboratório. Sua missão ali estava cumprida. Com movimentos ágeis, ela evitou os corredores principais, misturando-se às sombras enquanto seguia um trajeto alternativo para sua ala. Seu sistema interno registrava cada dado obtido, transmitindo silenciosamente para um canal oculto. Ela não podia ser detectada. Não agora. TXK chegou à central e encontrou os técnicos em alvoroço. Os robôs auxiliares realinhavam os sistemas, tentando identificar a origem do problema.

“Relatório,” ordenou, sua voz fria.

“Foi uma queda repentina na matriz de dados, senhor,” respondeu um dos técnicos. “Mas já estamos restabelecendo a conexão.”

TXK apertou os punhos.

“Isso não foi uma falha comum.”

Ele sabia que alguém estivera por trás disso. E uma suspeita começava a se formar em sua mente. Longe dali, JK-20 cruzava um corredor deserto, seu olhar fixo à frente. Ela vencera a primeira barreira. Mas o jogo estava apenas começando.

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