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A Ilusão do Controle

A sala de contenção mantinha sua temperatura e iluminação rigorosamente estáveis. Cada ciclo de observação era documentado em tempo real, e KJ-20 permanecia imóvel dentro da cápsula, seus olhos translúcidos acompanhando silenciosamente cada movimento dos drones de monitoramento.

Foram dias de observação minuciosa. TXK visitava a cada dois ciclos, analisando os relatórios de HD-5 e verificando se havia alguma mudança relevante na criatura. Aparentemente, sua passividade persistia.

Mas TXK sabia que isso não significava que ela era inofensiva.

Naquele dia, a interação entre eles aconteceria de maneira diferente. Pela primeira vez, a comunicação verbal seria tentada. TXK queria respostas.

Quando ele entrou na sala, os sensores identificaram sua presença, ajustando os painéis holográficos para exibir os dados mais recentes. KJ-20 não reagiu imediatamente, mas assim que ele se aproximou da cápsula, seus olhos se voltaram para ele.

TXK parou a menos de um metro da barreira de vidro reforçado.

“KJ-20, você me entende?”

Houve um silêncio momentâneo. Então, lentamente, ela assentiu com a cabeça.

Os sistemas registraram um aumento sutil em sua atividade neural, como se sua mente estivesse se preparando para algo.

“Vamos direto ao ponto. De onde você veio?”

KJ-20 manteve os olhos fixos nele. Dentro de seu cérebro avançado, algoritmos altamente sofisticados começavam a decodificar todas as variáveis daquela pergunta.

Ela poderia revelar a verdade?

Não.

A melhor resposta era aquela que o faria acreditar no que queria acreditar.

“Eu não lembro.”

Sua voz ecoou dentro da cápsula, abafada pelo líquido translúcido. Era serena, sem hesitação, perfeitamente calculada.

TXK manteve sua postura firme.

“Qual era o seu propósito antes de ficar congelada na gruta?”

Outro cálculo. Outra resposta cuidadosamente arquitetada.

“Não sei dizer. Não lembro de um objetivo claro.”

TXK permaneceu em silêncio por um momento, analisando-a com sua visão cibernética aprimorada. Nada nos padrões biométricos dela indicava mentira.

Mas ele não se deixou enganar tão facilmente.

“Você é uma ameaça?”

Dessa vez, KJ-20 piscou lentamente. Essa pergunta não precisava de muito processamento.

“Não.”

TXK olhou para os relatórios projetados ao lado da cápsula. Nenhum sinal de agressividade. Nenhuma alteração na atividade neural que sugerisse hostilidade.

Ela era um enigma, mas um enigma passivo.

“Você é alienígena?”

“Não.”

A resposta foi imediata.

Ele observou seus olhos, tentando detectar qualquer vestígio de falsidade, qualquer anomalia. Mas não havia nada. Apenas a expressão pacífica de alguém que, aparentemente, não possuía qualquer intenção hostil.

TXK se afastou alguns passos, ativando o canal de comunicação interna.

“Quero que iniciem os protocolos para a retirada da entidade da cápsula.”

A resposta de HD-5 veio quase imediatamente.

“Comandante, tem certeza? Ainda não compreendemos completamente sua biologia.”

“Ela está estabilizada. Não há sinais de agressividade ou de perigo biológico. Vamos testá-la fora da contenção líquida.”

Do outro lado, houve um momento de hesitação.

“Entendido. Ajustando os parâmetros de liberação.”

TXK voltou-se para KJ-20.

“Você respira fora desse líquido?”

KJ-20 assentiu lentamente.

O processo de drenagem começou.

O líquido na cápsula foi escoado por um sistema de filtragem avançado, revelando lentamente sua forma real. Seu corpo parecia perfeitamente humano, mas sua pele tinha um brilho sutil sob a luz fria da sala.

Suas mãos e pés estavam contidos por barreiras tecnológicas invisíveis — um campo de contenção que impediria qualquer ação imprevisível.

Assim que o fluido desapareceu por completo, ela inspirou profundamente pela primeira vez fora da substância.

Ela nada esboçou .

TXK observou cada microexpressão do seu rosto e ficou surpreso. Não havia alívio, não havia surpresa. Apenas um reconhecimento calculado da nova condição.

“Liberem-na para testes. Quero avaliações completas de sua resistência, reflexos, atividade neural sob pressão.”

[...]

Os dias seguintes foram marcados por provas exaustivas. KJ-20 foi submetida a estímulos físicos e psicológicos, analisada em combate simulado, testada sob diferentes condições ambientais.

Nada nos resultados apontava qualquer ameaça. Ela reagia como esperado. Quando atacada, se defendia. Mas nunca atacava primeiro. Quando testada para resolver problemas, demonstrava inteligência avançada, mas nunca excessiva a ponto de levantar suspeitas.

Os sistemas concluíram: KJ-20 era segura. Mas TXK ainda sentia que algo não estava certo. Na última fase dos testes, ela foi colocada em uma sala repleta de drones de análise. Todos os seus sinais vitais eram monitorados em tempo real.

Ela caminhou calmamente pelo ambiente, seus olhos registrando cada detalhe. Por dentro, sua mente trabalhava em um nível muito acima do que qualquer tecnologia ali poderia compreender.

Ela era algo diferente. Algo que não deveria ser despertado.

Mas já era tarde.

KJ-20 olhou levemente para a câmera de monitoramento, um gesto sutil que ninguém daria importância. E, pela primeira vez, um comando interno foi ativado. A fase 1 estaria sendo iniciada e ninguém percebeu. Ninguém suspeitou. Ela se camuflara perfeitamente. Aguardando o momento certo para cumprir sua verdadeira função.

Destruir os robôs.

[...]

TXK volta e meia observava KJ-20 com um misto de fascínio e inquietação. Havia sempre sorriso discreto nela, mas inegavelmente presente. Entre os robôs, emoções eram irrelevantes. Para os humanos sobreviventes, qualquer demonstração de alegria era considerada perigosa e, por isso, reprimida. O comandante não conseguia se lembrar da última vez que havia visto um sorriso genuíno.

A base primária onde estavam era uma fortaleza tecnológica, um entreposto de pesquisa e vigilância. Mas, em algum momento, TXK percebeu que KJ-20 não terminaria ali. Sua evolução era contínua e, para os sistemas de inteligência artificial, não havia registros de falhas ou desvios comportamentais. Ela não apenas havia sido aceita ... Estava sendo preparada para algo maior.

A questão era: o quê?

Os protocolos de segurança se mantinham, mas sua presença se tornava cada vez mais normalizada na base. As demais unidades espalhadas pela Terra, conectadas à estrutura da base-mãe, eram interligadas . O desligamento de uma dessas células indiscriminadamente afetaria tudo, como se o sistema tivesse que reajustar um novo ciclo.

KJ-20 não demonstrava interesse em fuga ou destruição. Pelo contrário. Seus passos eram controlados, suas ações cuidadosamente medidas. Ela se adaptava ao ambiente como se sempre pertencesse a ele. O segundo passo seria usar o que os humanos de amor, sedução; o modo mais antigo e eficaz de ganhar a confiança de um comandante solitário. Jk-20 sabia que foram mantidos nele partes humanas, isso era o mais importante.

TXK a encontrou observando uma tela holográfica que exibia os fluxos de monitoramento global. Ela parecia absorver cada detalhe, silenciosa. Sabia que deveria se preocupar. Mas não conseguia evitar a curiosidade.

“Você entende o que está vendo?”

Ela virou-se lentamente para ele.

“Sim.” Seus olhos o deixou desconcertado, o comandante engoliu em seco ao ver seus lábios unidos responderem diante da resposta simples, mas a forma como seus olhos analisavam as projeções deixava claro que aquilo ia além de um simples reconhecimento visual.

TXK cruzou os braços.

“Se tivesse liberdade total, o que faria?”

KJ-20 manteve o olhar fixo nele por alguns segundos antes de responder. Ele era uma presa fácil. Analisou ela ao sentir sua jugular pulsando por baixo do capacete blindado.

“Exploraria a Terra.”

A resposta o surpreendeu. Ele esperava algo técnico, pragmático, mas ali havia um traço de curiosidade que os robôs simplesmente não possuíam.

“Por quê?”

Ela olhou de volta para os mapas holográficos.

“Preciso entender melhor esse mundo.”

O comandante ponderou. Para onde aquilo estava indo? KJ-20 tinha provado ser segura. Não havia registros de agressividade ou qualquer traço de perigo imediato. Se o sistema continuasse a aprová-la, não haveria razão lógica para impedi-la de ir além daquela base.

E foi exatamente isso que aconteceu.

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