K-20

A sala de análise piscava em tons frios de azul e branco, os sensores captando cada variação mínima dentro da cápsula blindada. K-20 estava despertando.

O líquido translúcido que a envolvia tremulava levemente, como se estivesse vivo. Pequenas bolhas escapavam de seus lábios entreabertos, e seus longos cabelos flutuavam em ondas suaves. Os monitores começaram a registrar um aumento na atividade neural, enquanto sinais elétricos pulsavam de forma errática.

HD-5, o sistema avançado de decodificação, processava freneticamente os dados recebidos pelos eletrodos de fibra conectados à cápsula. Códigos indecifráveis surgiam e desapareciam na interface holográfica, mudando com uma velocidade impossível de acompanhar.

“Comandante TXK, a entidade está acordando.” A notificação ecoou em seu comunicador interno.

TXK não hesitou. Em questão de segundos, atravessou os corredores metálicos da base e adentrou a sala. Assim que as portas se selaram atrás dele, seus olhos cibernéticos captaram a cena diante da cápsula.

Ela estava consciente. KJ-20 abriu os olhos. Iris translúcidas, quase como vidro polido, refletiam a luz ambiente. Seu olhar vagava pelo interior da cápsula com confusão, como se estivesse tentando entender onde estava. Então, seus lábios se moveram, emitindo um som abafado pelo líquido de contenção. Comandante TXK estreitou os olhos. Ela estava respirando. A princípio, ele achou que fosse um erro dos sensores. Nenhum humano sobreviveria imerso por tanto tempo. Mas ali estava ela, seus pulmões expandindo e contraindo suavemente, como se sua biologia tivesse se adaptado para operar como a de um anfíbio.

“Relatório, HD-5.” Sua voz saiu firme. O sistema projetou uma cascata de códigos binários e símbolos desconhecidos no ar.

“Os sinais cerebrais da entidade estão ativos em um nível superior ao registrado anteriormente. Ela está processando sua realidade em tempo real. No entanto, há uma irregularidade: os códigos de comunicação emitidos por ela são instáveis. Cada vez que tentamos decifrá-los, eles se reconfiguram.”

TXK franziu a testa.

“Ela está alterando os padrões propositalmente?”

“Possivelmente. Ou pode ser um reflexo inconsciente da própria estrutura cerebral dela. A entidade parece ser capaz de interagir com os sistemas ao redor de maneira orgânica.”

Ele se aproximou da cápsula.

KJ-20 seguiu seu movimento. Por um instante, ela apenas o observou...mapeando. Seus olhos translúcidos percorreram sua figura de maneira analítica. Não como alguém assustado diante de um desconhecido, mas como um sistema analisando outro sistema.

Os eletrodos captaram um novo pico de atividade neural. TXK percebeu a súbita mudança em suas pupilas. A íris clara expandiu-se até se tornar um círculo negro.

Ele não recuou.

“De onde você vem?” Sua voz soou baixa, mas firme.

“KJ-20 piscou lentamente. Então, algo inesperado aconteceu. Ela se afastou.

A expressão dela mudou sutilmente, como se tivesse encontrado algo que não gostava. Como se tivesse compreendido algo nele. TXK não desviou o olhar. Ele não sabia o que exatamente havia acontecido naquele instante de conexão silenciosa. Mas tinha certeza de uma coisa. Essa criatura era muito mais do que um simples experimento genético perdido no tempo. E ele estava determinado a descobrir a verdade.

TXK permaneceu imóvel diante da cápsula. KJ20ainda o observava, seus olhos analisando cada detalhe de sua presença. Então, de repente, ela se moveu. Seus dedos esguios tocaram o vidro blindado. Primeiro de forma sutil, quase curiosa. Depois, com mais força. Ela queria sair.

Os sensores da sala registraram um aumento repentino na atividade biométrica dela. Seus batimentos aceleraram, os códigos nos monitores começaram a se alterar mais rápido do que HD-5 conseguia decifrar.

“Comandante, a entidade está tentando se comunicar diretamente com a interface da cápsula.”

TXK ativou seu comunicador interno, sua voz saindo em um tom calculadamente baixo.

“Mantenham a contenção. Não sabemos a extensão das capacidades dela.”

DR-7 respondeu do outro lado da sala de controle.

“Ela pode estar entrando em estado de agitação. Se for biologicamente híbrida, seu corpo pode ter instintos primários de sobrevivência ativados.”

Antes que TXK pudesse responder, um som abafado ecoou pela sala.

BAM.

A palma de K-J20 m,bateu contra o vidro blindado com força. Pequenas ondas se formaram no líquido dentro da cápsula.

Os robôs entraram em alerta. “BAM.” Dessa vez, com mais intensidade.

Seus lábios se moviam, formando palavras que o líquido ainda abafava. Mas seus olhos… havia algo neles. TXK reconheceu aquele olhar. Não era medo. Eram exigência. Ela queria sair.

Comandante, a integridade estrutural da cápsula é segura, mas… HD-5 hesitou por uma fração de segundo. “Se a entidade continuar aumentando a intensidade do impacto, podemos ter uma situação imprevisível. TXK respirou fundo. Ele não era mais humano, não sentia ansiedade ou dúvida. Mas sabia reconhecer um risco. Ele se aproximou mais um passo. Os olhos dela seguiram seu movimento.

“K-J20.”

O nome ecoou pelo comunicador. Ela congelou por um instante. O impacto parou. O líquido na cápsula voltou a ficar imóvel.

“Ela o ouviu.”

E, pela primeira vez, TXK teve a sensação de que aquela criatura não era apenas uma experiência científica perdida. Ela entendia. Agora, ele precisava decidir o que fazer.

Por um instante, K-J20 permaneceu imóvel dentro da cápsula, os olhos fixos em TXK. O ambiente ao redor parecia absorvido por um silêncio tenso, quebrado apenas pelo zumbido das máquinas e pelo monitor que registrava seus sinais vitais.

Mas então, algo mudou... As pupilas dela voltaram ao tom translúcido e, em questão de segundos, ela começou a captar tudo ao redor com precisão anormal. Seus olhos percorriam os detalhes da sala, registrando cada painel holográfico, cada sistema de segurança embutido nas paredes, cada movimento dos drones de análise. Era como se estivesse mapeando o ambiente em tempo real. TXK percebeu isso imediatamente.

“HD-5, status da atividade neural.”

O sistema respondeu prontamente.

“Padrões cerebrais estabilizados, mas os picos de absorção de dados aumentaram. Ela está processando o ambiente a uma velocidade incompatível com qualquer organismo humano conhecido.”

TXK franziu a testa sob o capacete.

“Ela estava aprendendo. Rápido demais. KJ-20 desviou o olhar da estrutura da sala e voltou a encará-lo.” E então, como se tivesse chegado a uma conclusão, sua expressão mudou.

Ela parou de bater no vidro...Suas mãos deslizaram suavemente pela superfície transparente, como se imediata estivesse sentindo a textura do material. Os sensores captaram uma súbita diminuição na tensão muscular.

A urgência de sair havia desaparecido. Isso não significava que ela havia desistido. Significava que entendeu que aquele lugar não era uma ameaça.

TXK analisou sua reação. Ele sabia que o protocolo recomendava manter a entidade contida até que pudessem decifrar sua biologia completamente. Mas também sabia que algo dentro daquela criatura era diferente.

Ela, não era apenas um experimento genético... Ela, tinha consciência. E agora, ele precisava decidir... se ela deveria continuar presa... ou se havia chegado a hora de libertá-la.

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