O quarto estava banhado pela luz suave da tarde. Isadora e Bia estavam sentadas à janela, as pernas cruzadas sobre a poltrona e almofadas espalhadas pelo chão. A atmosfera era leve, mas cheia de significados suspensos.
— Uma das meninas da minha turma fez as aulas inteiras com o bebê no colo — contou Bia, sorrindo. — Literalmente. Às vezes amamentando, às vezes com a criança dormindo num sling.
Isadora sorriu, meio cética.
— Deve ter sido um caos.
— Foi. Mas ela não parou. Você sempre quis aquele curso de fotografia, Isa. Ter um filho não anula isso. Dá trabalho, sim. Mas também dá motivação. Você ainda pode ser você… mesmo sendo mãe. Mesmo sendo esposa.
Isadora respirou fundo. Os olhos marejados, mas não de tristeza. Era como se alguém tivesse lhe devolvido um pedaço esquecido de si mesma.
— Eu mudei tanto… o corpo, os horários, as prioridades. Às vezes, eu nem me reconheço. E outras vezes, fico com medo de voltar a ser quem eu era.
Bia apertou sua mão.
— Às vezes mudar é só crescer.