O dia começou com o calor do sol filtrando pelas janelas da ONG, como se o universo soubesse que algo estava prestes a incendiar mais do que o tempo. Anyellen caminhava pelos corredores com a prancheta de atividades na mão e a mente no que viu na noite anterior: Miguel, sozinho na sala, analisando documentos com a sobrancelha franzida e o maxilar trincado. Ele parecia carregar o peso de algo que ainda não tinha nome.
Ela não confiava plenamente nele. Mas também não conseguia afastá-lo.
E isso a irritava.
Miguel apareceu na recepção pontualmente, camisa social com as mangas dobradas, a barba por fazer e aquele olhar que parecia despir intenções. Estava ali para participar da dinâmica com os adolescentes. Nada de cargos. Nada de poder. Pelo menos era o que ela exigira.
— Aqui você não é CEO.
Ela disse assim que ele entrou na sala multiuso, com o mesmo tom com que dava bronca nos garotos da turma do futsal.
— Você é voluntário. Igual a todos. Entendido?
Falou como se tivesse se protegen