O carro antigo estacionou diante da pequena casa no final da ladeira de terra. A pintura descascada, as janelas fechadas, a varanda cheia de vasos mortos e garrafas de vidro vazias. O cheiro de mofo e aguardente parecia atravessar as paredes. Anyellen desceu devagar. As lembranças pesavam mais do que os passos.
Era uma casa que não guardava memórias felizes. Apenas silêncios. Gritos abafados. Copos quebrados. Um colo que nunca veio.
A porta rangeu quando ela empurrou. Dentro, o mesmo cenário de sempre: o som baixo da televisão ligada num canal aleatório, as cortinas pesadas bloqueando a luz, e o corpo magro de Dona Carmem jogado na poltrona, com um cigarro aceso numa mão e uma garrafa na outra.
— Olá, mãe!
Anyellen disse, tentando manter a voz firme.
Dona Carmem ergueu os olhos com dificuldade. Piscou algumas vezes, como se tentasse lembrar quem era aquela mulher diante dela.
— Veio me julgar?
A voz saiu rouca, seca.
— Ou veio buscar o resto que sobrou?
Anyellen suspirou. Caminhou