O sol tocava a fachada da antiga sede da ONG com a ternura de quem acaricia uma lembrança boa.
Anyellen e Miguel caminhavam de mãos dadas pela calçada de pedras irregulares que um dia ela havia varrido com lágrimas nos olhos — e hoje, pisava com o coração tranquilo.
Não havia mais grades no portão. Não havia mais medo na alma.
— Você lembra do cheiro daqui? — ela perguntou, olhando o jardim onde um dia sonhou ser livre.
— Lembro de tudo.
Do cheiro da tinta descascada…
Do som dos passos apressados no corredor…
E do silêncio que você usava como armadura — respondeu ele, apertando de leve os dedos dela.
Ela sorriu. Não porque doía. Mas porque agora entendia.
As cicatrizes ainda estavam ali.
Mas já não sangravam.
E nem precisavam ser escondidas.
Pararam diante da porta da sala onde se viram pela primeira vez.
— Aqui foi onde eu achei que você fosse só mais um homem querendo poder — ela confessou, com um sorriso cúmplice.
— E aqui foi onde eu descobri que eu era só um homem… querendo paz —