O sol ainda se escondia entre nuvens pálidas quando Anyellen atravessou o portão da ONG. O dia mal havia começado, e algo no ar estava fora do lugar. Ela sentiu o frio na espinha antes mesmo de ver os olhos que um dia juraram amor e agora carregavam outra coisa. Algo mais sombrio. Algo que latejava feito veneno: possessão.
Caio estava encostado no batente da entrada, com os braços cruzados e o sorriso torcido. Usava a mesma camisa de linho branca que costumava vestir nos almoços em família, como se aquilo pudesse invocar nostalgia. Mas Anyellen não sentia falta. Não daquele homem.
— Meu amor...
Ele disse, como se nenhuma dor tivesse atravessado os anos. Como se fosse dono de um passado que ela lutou para enterrar.
Ela parou. O corpo enrijeceu. Os olhos dela tornaram-se frios como lâminas bem afiadas.
— Não me chame assim.
Caio deu um passo à frente. Os olhos escuros, outrora doces, agora tinham um brilho alucinado.
— A gente tem tanta história, Anny. Você não pode simplesmente me apa