A manhã estava dourada, suave como um sussurro de outono. O pátio da ONG vibrava com vozes juvenis e pequenos passos que corriam de um lado para o outro como se o mundo coubesse naquele espaço. Miguel estava ali, mas era como se não pertencesse à cena. Observava de longe, os braços cruzados, tentando esconder o desconforto que sentia por dentro. Ele era um predador entre colibris. E, no entanto, algo nele começava a desarmar. — Tio, segura! Gritou Matheuzinho, jogando uma bola de pano na direção de Miguel, que, surpreendentemente, a pegou. Os olhares se voltaram. As crianças riram. E então ele a viu. Anyellen. De pé, na varanda, com uma prancheta na mão e o cabelo preso de um jeito descuidado e sensual. Ela observava a cena. E então… sorriu. Não foi um sorriso largo. Foi breve. Um segundo, talvez dois. Mas foi o suficiente para derrubar qualquer defesa que Miguel ainda mantinha. Ele ficou imóvel, com a bola na mão e o peito apertado por algo que não soube nomear. Aquele sorris
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