As paredes do salão estavam vivas.
Não com tinta.
Mas com alma.
Cada quadro de Anyellen contava uma história que jamais coube inteira numa tela, mas mesmo assim, ela pintava.
Pintava porque precisava lembrar a si mesma que a dor também pode virar cor.
E porque, agora, sua arte não era mais sobre catarse.
Era sobre construção.
— Quantas bolsas já conseguimos? — ela perguntou, com os olhos fixos na tela de uma menina de olhos fundos e sorriso por vir.
— Cinquenta e duas. E contando. — respondeu Mariana, com o tom de quem anunciava milagres diários.
As telas estavam sendo vendidas em exposições organizadas por Raul Falconi e apoiadas por investidores sociais. O que antes era terapia silenciosa agora financiava bolsas de estudo, programas de reintegração, oficinas para jovens mães e projetos para adolescentes que, até ontem, só conheciam os tons acinzentados da rejeição.
— Essas telas… são pedaços do que me faltou — Anyellen sussurrou, observando uma em especial: a que pintara com o rost