Henry, o terceiro filho da família Seven, decide se casar com uma mulher que ele nunca viu. Para ele, casamento é apenas um acordo. Conhecer a noiva no dia do baile onde anunciaria o noivado, esse era o plano. Até aquela loira de olhos cor de oceano surgir. Cinderela é uma mulher que sonha com a liberdade, cada dia mais cansada da escravidão e ameaças impostas por sua madrasta e os irmãos. Tudo que ela busca é uma forma de escapar. Por isso aceita uma noite sendo outra pessoa. Ela só não sabia que estava indo em direção a uma armadilha de um metro e noventa e um apetite voraz. Uma festa. Um sapato emprestado. E a vida de Cinderela muda para sempre. Agora ela é noiva de um dos cinco irmãos Seven; os mafiosos donos da cidade.
Leer másO amor é uma flor azul
Que desabrocha onde é desejada.
CINDERELA
— Seja bem-vinda, senhorita Bela Dubois! — um dos dois homens fantasiados de guardas da realeza cumprimenta ao ver meu convite.
Apenas sorrio e aceno, passando rápido antes que ele descubra a farsa.
O vestido é longo demais, tenho que levantar um pouco para andar melhor, o que dá um vislumbre do sapato que parece ser de cristal, quando na verdade o material é bem confortável por dentro.
Esse treco é caríssimo. A Bela é louca de me pedir para usar.
Entro no salão do castelo e sou brindada com puro luxo. Tem que se ter muito poder para morar em um castelo em plena Copacabana, e poder é o que os irmãos Seven mais tem. Um poder obscuro e manchado de sangue. A máfia Seven é a maior no Brasil. Nenhuma facção ou máfia conseguiu destroná-la. O que mais tem no jornal são tentativas, claro que camufladas por crimes “normais”.
Eles mandam nos jornais... na verdade mandam em tudo, até na polícia. Sei que até os irmãos da minha madrasta tem chefes que são “funcionários” da família Seven.
O que não sei bem é o porquê Bela recebeu um convite para essa festa. Nem ela sabe.
O que sei é que minha amiga tem pavor de criminosos, por isso estou aqui enquanto ela está trancada na biblioteca com seus livros. Bem longe dos olhos do seu pai, que acha que ela está nesse vestido e nesse sapato.
É isso. Hoje serei Bela...
Só que eu sou muito azarada, o bastante para entrar no salão exatamente no fim de uma dança. E, como nas cenas constrangedoras de um filme, vários olhares se viram em minha direção.
Isso me incomoda. Posso ser descoberta com tantos olhos vidrados em mim.
Respiro fundo para me acalmar. E repito mentalmente: são só pessoas.
Não resolve.
Aff... Essas pessoas deviam parar de encarar.
Era para Bela ter vindo essa noite. O sapato em meus pés foi feito exclusivamente para ela, o vestido também. Pior, o convite só mencionava a filha do Dubois.
Eu me meto em cada enrascada por causa da Bela.
Meu olhar se desvia em direção a minhas irmãs e minha madrasta. Elas estão de queixo caído. Ainda bem que o vestido disfarça o quanto sou magra, ou poderiam me reconhecer mesmo de máscara. Elas sim tem motivos para serem convidadas, são lindas, dão brilho a qualquer festa, diferente de Cinderela Chausse — eu — que é tão normal quanto se pode ser.
Apesar de todo o constrangimento, começo a perceber que os olhares são de admiração também. Bela tinha razão; eu estou linda. É tão raro me sentir assim.
— Milady — um homem para próximo ao último degrau da escada onde estou.
E eu paro também. Três degraus antes de chegar nele.
Nem morta que chego perto.
É Henry Seven.
Não existe chance desse homem estar falando comigo.
Os donos da festa são os únicos sem máscaras. É impossível não saber qual deles é cada um.
Fico parada feito uma idiota, encarando o homem de cabelos castanhos, olhos negros e porte de um verdadeiro príncipe na fantasia que usa.
Ele olha direto para os meus pés, antes de subir para o meu rosto mascarado e sorrir sem alcançar os olhos.
— Bela, fico feliz que aceitou meu convite.
Bela? Ele me reconheceu pelo...
— E os sapatos — completa.
Então os sapatos foram comprados por esse homem para a minha amiga. Isso está ficando estranho.
Mas se ele a conhece, por que não reconheceu que sou outra pessoa? E por que a Bela não disse que conhecia um dos Seven?
Tento dar um passo para trás, esquecendo que estou em uma escada. Grande erro.
O equilíbrio já era.
Estendo os braços para frente pronta para a queda... que não vem.
Minha nossa senhora das mulheres desastradas... estou nos braços de Henry Seven.
— Cuidado, milady! — sinto seu respirar perto da minha orelha.
Tento controlar o início da reação em um local muito proibido em meu corpo.
O jeito como “milady” soa em sua voz é afrodisíaco, só pode.
Isso é uma festa a fantasia, não voltamos no tempo para ele me chamar assim. É melhor que pare.
Tento me afastar, mas ele aperta minha cintura. A proximidade faz com que eu sinta algo duro. E não é animação por me ver, é uma arma. Está no lugar errado para ser outra coisa.
— Por que a pressa, futura esposa?
Como? Futura o que?
— O que? — devo ter entendido errado. Só pode ser isso.
Ele me coloca ao seu lado e nos vira para todos no salão. Só agora percebo que a música não voltou a tocar. Esse homem tirou meu foco e nem me dei conta.
— Família e convidados, o motivo desse baile chegou. Quero que conheçam a minha noiva. — Ele se vira para mim e fala baixo: — Tire a máscara, Bela.
— Não, eu não sou... — Antes que eu complete, a mão dele está atrás minha cabeça arrebentando a fita da máscara. — Ai, caralho! — resmungo.
— Cinderela?
Pronto. Ferrou tudo. É a voz da minha madrasta.
“Sim, quando um homem ama uma mulherEu sei exatamente como ele se sente”When A Man Loves A Woman - Michael BoltonDois anos depoisHENRYPrimeiro esperamos a bebê nascer, depois esperamos um pouco mais para ela não estar tão novinha. Agora, finalmente, estou aqui plantado nesse altar esperando Cinderela surgir e me dizer sim outra vez. Enquanto isso sigo minha princesa passando de colo em colo nas mãos das mulheres dessa família. Está tão linda quanto uma princesinha de vestido azul e cabelos loiros, como os da mãe, soltos. Pena que herdou meus olhos negros. Se fossem azuis seria uma cópia perfeita da mãe.No altar, comigo, estão todos os meus irmãos e meu pai. Suas mulheres estão sentadas nas primeiras cadeiras, esperando os primeiros acordes de When A Man Loves A Woman para tomarem seus lugares.Os acordem começam, elas se levantam. Cada uma fica em um lugar do tapete vermelho por onde Cinderela vai passar.Ela escolheu a música, diz ser a nossa música.Para mim qualquer música é n
HENRYA visita de Drizella me incomodou, o excesso de carinho de Nate com minha mulher também.Mas nada me incomoda mais que o suspense de hoje.Claro que Cinderela não desistiu da surpresa, mesmo que não seja mais tão surpresa assim.Por mais que eu tenha dito várias vezes que é desnecessário, que melhor seria me surpreender pelada embaixo de mim, ela se fez de surda. E eu, agora oficialmente sua cadelinha — já nem escondo mais —, estou obediente entre nossos familiares e amigos para receber a tal surpresa.— Cheguei! Podem começar a festa. — Conheço o homem espalhafatoso que entra dizendo essas palavras em alto e bom som.Ele traz uma caixa na mão.— Mamãe, quer ter a honra? — estende a caixa para minha mulher e abana o pescoço com a outra mão. — Não vou aguentar esperar, morro de ansiedade.Cinderela se vira para mim.— Amor, sei que não é tão surpresa assim, mas espero que goste. — Ela pega a caixa e me entrega.— Você sabe o tipo de surpresa que gosto. — Não perco a chance de pro
No dia seguinteCINDERELA— Eu quero ver o Nate — exijo cruzando os braços sobre os seios sensíveis. — Sou sua prisioneira agora?Meu marido continua servindo seu uísque no bar do quarto.— Dá pra ficar calma, mulher?! Eu só disse que é melhor outro dia.Bufo e me jogo sentada na cama. O que faz Henry me lançar um olhar matador.— Estou grávida, não virei de cristal.Eu sei que não é minha culpa o que aconteceu com o Nate, mas eu quero lhe dizer que sinto muito.Henry não diz nada, continua só me olhando.— Ele é meu amigo, porra! Eu quero vê-lo.— Quer ver quem? — Raoul aparece na porta. Antes que Henry reclame da intromissão, ele dá de ombros. — Estava aberta. Só vim avisar que o grandão caolho está lá embaixo. Quer saber como você está, cunhada.— Nate?Ele confirma com um gesto e eu saio como um furacão.Só me detenho quando vejo o homem com um curativo em um olho, logo no início das escadas.— Nate... — Me jogo em seus braços abertos. Já estou chorando. — Me desculpe. Eu sinto mu
HENRY— Nosso jogador principal chegou. — Marcelo fala. Esse merda está completamente louco.— Sim. Estou aqui. Me diga o que você quer para soltar essas pessoas.— Vamos jogar, valendo a vida deles... — ele segue meu olhar em direção ao motorista, claramente morto. — Pelo menos de quem ainda está vivo.— Cinderela... — não consigo completar a frase, porque de onde estou não dá para confirmar se ela respira.— Só desmaiou. Coisa de grávida.— Diga logo os termos do seu jogo.— O jogo é simples, você acerta o pé da dona e sai levando a garota, erra e leva um corpo.— Só tenho que colocar o sapato no pé da minha mulher? — questiono confuso.— Isso.Esse homem é doente, posso ver claramente quem é Cinderela.— Já posso colocar?— Claro. Claro. Vamos logo com isso.Caminho devagar até Cinderela. Tenho que ser cuidadoso, loucos são capazes de qualquer coisa.Me abaixo diante dela e acaricio seus tornozelos antes de calçar os sapatos nos seus pés descalços. Suas sandálias estão jogadas pert
CINDERELAQuando acordo estou em uma sala suja, cheirando a podre. É difícil conter a vontade de vomitar. Me lembro vagamente do que aconteceu no carro. Aquele maldito motorista. Ele nos traiu.A minha cabeça dói. A acertaram. Me lembro da dor e de apagar.Tento levar a mão até o foco da dor, mas elas não se movem, estão amarradas.Vejo que não sou a única na sala. Há três outras cadeiras na minha frente com outras três pessoas amarradas. Conheço cada uma delas. É o motorista, Nate e Drizella. E Deus, o que aconteceu com ela? Está tão magra e abatida.Todos eles estão desmaiados. Eu espero que esteja só desmaiados.Olho ao redor.É a sala da casa de Lady Tedesco. Está parecendo abandonada. Na verdade, parece um lixão, com coisas e comidas jogadas para todo lado. O sofá que a Lady adorava está manchado e rasgado.O que houve aqui?Marcelo entra na sala assobiando, usando seu uniforme da polícia tão sujo e rasgado quanto as coisas nessa sala.Ele me ignora e vai até os três. Pega uma ja
HENRYCinderela adora fazer surpresas, já percebi. Vamos ver o que ela diz da surpresa eu estou preparando.Primeiro um jantar no gazebo com direito a uma dança estilo filmes clichês, depois um quarto iluminado por vê-las e uma cama forrada por pétalas de rosas tão azuis quanto seus olhos.Quero ver se o castigo vai durar.O quarto está trancado e pronto. No gazebo está tudo quase pronto.Coloco a champanhe e o suco no balde quando escuto meu telefone tocar. É o número dela.— Está atrasada. — Atendo dizendo.— Não é o que acho. — Uma voz masculina responde.Péssimo sinal.— Quem é você? Onde está Cinderela?— Eu sou o último Tedesco.Marcelo.Eu devia ter colocado alguém na procura por esse infeliz.E se a vida da minha mulher não estivesse em jogo, eu lhe daria uma aula de matemática. Último... se bem me lembro ainda tem três vivas com esse sobrenome.— Cinderela está bem? — É tudo que importa saber agora.— Por enquanto. O bem estar dela e da pequena em sua barriga vai depender de
Último capítulo