HENRY
— O que vai fazer com essa arma, porra?
Eu não estou acreditando que meu irmãozinho pretende fazer isso.
Raoul está segurando a arma do policial corrupto e ordenando que desça a calça.
— Vou enfiar no rabo dele.
O homem arregala os olhos. Está algemado depois que o peguei usando nosso nome para extorquir pequenos comerciantes. Os Seven jamais fariam isso, extorquimos é grandes empresas, ameaçamos poderosos, nunca os oprimidos.
— Só pode estar maluco! — É impossível não rir enquanto falo.
— Foi o que ele disse que faria com aquela vovô do mercadinho. Nada mais poético que o otário morrer assim, com um cano no rabo.
— Sim, esse monstro me disse essa pouca vergonha.
Me viro para a voz e só uma pergunta me ocorre:
— O que essa mulher ainda faz aqui?
— É bom que ela veja o que acontece com pessoas como ele, não é não? — Ele começa certo do que fez e acaba com dúvida.
— Não sei quem é mais pirado, você ou o Florian. Tire essa senhora daqui — digo me virando para os capangas conosco.
Vamos, senhora.
Isso não é lugar para a senhora.
Os ouço falando enquanto a conduz para fora do galpão.
— Agora, você... — aponto o dedo para o meu irmão. — Raoul, você não existe. Fico imaginando o que o papai vai dizer se eu contar que seu filhote tá se metendo com o rabo de vagabundo.
— Que exagero! Quando eu fizer dezoito anos vou poder resolver as coisas do meu jeito.
— Até lá. Só observe, ok, magrelo?
Ele dá de ombros.
Eu sorrio olhando o homem a minha frente. Passo a mão pelo queixo, pensando alto.
— O que fazer com você? Quero que sirva de exemplo.
— Fure os olhos dele — Raoul atrapalha meus pensamentos.
— Caralho, maninho! Era a minha ideia principal, agora todos vão pensar que é sua.
Ele dá de ombros outra vez, guardando um canivete na jaqueta preta — parecida com a minha — e pegando a arma que sequer deveria estar segurando. Eu o trouxe aqui sem permissão do nosso pai.
— Somos irmãos, nada mais natural que pensarmos igual.
Tirando a parte da arma no cu do vagabundo, ele está certo.
— Vamos cortar sua língua e furar seus olhos... — decido.
— Por favor, piedade. — O homem implora.
— Tenho cara de santo, anjo ou deus para ter piedade? E vamos ser sinceros, você sabia onde isso ia dar. É impossível ter achado que nunca seria pego.
— Foi pela minha família que...
— Não. Não. Não. — Balanço a cabeça. — Por favor, não me faça trazer sua mulher aqui para ter o mesmo destino que você.
— Ela está gravida, precisávamos...
Levanto a mão para o interromper. E bocejo. Desculpas esfarrapadas me dão sono.
Os Seven não nasceram no castelo onde moramos. Meu pai e minha mãe passaram dificuldades antes de se tornarem poderosos. E eles nunca usaram suas dificuldades para subjugar pessoas na mesma situação ou em situação pior. É o mais importante para o nosso pai, e todos que nos conhecem sabem, assim como sabem que não adianta implorar.
— Vou fazer um favor a nós dois e não estender isso. — Me viro para o homem moreno de roupas escuras, assim como as minhas e as do meu irmão.
— Canivete. — Estendo a mão.
Logo sinto o objeto na palma, por cima das luvas.
Sem perder tempo, aperto a bochecha do gordão a minha frente, porque claro que ele não facilitaria abrindo a boca e colocando a língua para fora.
— Raoul, me ajuda. Segura a língua dele — peço.
Meu irmão cruza os braços.
— Só se me deixar furar os olhos.
— Como queira. Rápido. Ainda tenho questões do baile para resolver.
Enquanto se aproxima, ele comenta:
— Eu nunca vi a Bela. Ela é bonita?
— Eu também nunca vi, mas isso não importa. Ela só precisa aceitar seu papel de minha esposa. Não necessariamente minha amante.
Ele ri e puxa a língua do policial corrupto, que ainda tenta escapar do seu destino.
— Você não parece disposto a conhecê-la, então como vai saber quem é ela no baile, para apresentar?
Antes de responder, corto a língua e solto o moribundo, que cai no chão se contorcendo.
— Papai me deu a ideia de mandar fazer um sapato exclusivo para ela — respondo me afastando e limpando o sangue que me sujou com um lenço azul. — Eu vou a reconhecer pelo sapato. E pela máscara e o vestido que a mesma grife está providenciando. Será mais divertido assim.
Já encomendei tudo. Vou fazer em uma grife de artigos luxuosos. O nome é Fairy GM. Mamãe adorava as coisas deles.
— Aposto que estão fazendo tudo azul.
— Apostou certo. Tirando os sapatos. Você verá.
Azul é minha cor favorita, sempre foi e sempre será.
— Acho tudo isso uma bagunça.
— E eu acho que você já deveria ter feito a sua parte. — Aponto o homem agonizante no chão.
— Já está feito.
Vejo meu irmão adolescente colocar um pé no pescoço do homem no chão e simplesmente enfiar os dedos nos olhos dele. Sei que somos treinados para fazer coisas que muitos abominam, mas ele ainda não passou por nenhum treinamento, e o sorriso cruel em seu rosto assusta até a mim. Olhar para ele me faz lembrar dos filmes de psicopatas que já assisti.
Tenho que ficar de olho para que ele só olhe assim em direção a quem mereça.
— Vamos embora. Eles cuidam do resto. — Me viro para o homem loiro próximo a mim. — Pode terminar de matar. Não quero que ele se torne um peso para a esposa.
Raoul sai de perto do homem lambendo os dedos e reclamando do gosto ruim.
— Vamos mesmo. Fiquei de levar Chapeuzinho para ver um filme idiota de sereia.
Deixamos o sujeito para que nossos funcionários decidam sobre sua morte.
— Quando vocês dois vão assumir um romance?
Ele revira os olhos.
— Se você não sabe o significado da palavra amizade, não se meta.
— Eu aposto meu olho direito que vão acabar um em cima do outro. Se é que já não ficaram assim...
— Seu olho vai ficar incrível em um pingente. Quando você acha que posso considerar que perdeu a aposta?
— Que coisa horrível de se dizer. — Dou um soco nele. — Eu te dou uma carona até em casa. Não pode encontrar minha futura cunhada cheirando a morte.
— Babaca!
Rio e abraço seus ombros.
Depois de sair da presença de um porco como o que deixamos para trás, não dedicamos nenhum segundo a pensar neles.