Parte 118...

Domenico

A porta rangeu.

Vi primeiro o salto. Depois o vestido justo. E por fim, o olhar. Aquele olhar que ela me dá quando está muito puta da vida.

Ombros erguidos, queixo pra cima, mas com os olhos ligeiramente turvos. Um tanto de raiva, um pouco de álcool. E tudo aquilo direcionado para mim.

— Está se divertindo, Domenico? - ela disse, parando na minha frente com os braços cruzados. — Porque eu estou! Olha só que maravilha. Cantei. Bebi. Fui traída. Tudo em uma noite.

— Aurora... - tentei falar, mas ela levantou a mão bem na minha cara.

— Não me chama com essa voz de “eu juro que tenho uma explicação”, porque já vi essa cena. Só que hoje, eu fui a plateia. E sinceramente? Não gostei da peça.

— Você está bêbada.

— Eu estou lúcida o suficiente pra reconhecer um beijo, mesmo que tenha durado só dois segundos. - ela apontou o dedo no meu peito. — Dois segundos que você não impediu.

Suspirei e cocei a testa. A mulher que me ajudou passou por nós e sorriu. Agradeci de novo.