Capítulo 75

A noite em Lisboa havia descido silenciosa, como se o mundo inteiro estivesse num compasso de espera. As luzes dos postes acesos refletiam nas calçadas úmidas, e uma brisa fria entrava pelas frestas da janela do meu quarto. Helena não se cobriu. Ficou ali, sentada na cama com o notebook sobre as pernas, encarando a tela em branco.

O e-mail de Arthur ainda pulsava dentro dela como se fosse ontem. Mas já fazia três dias.

Ela soube, desde o momento em que clicou para abrir, que não era uma despedida. Também não era um convite. Era o que ele prometeu: verdade. E, de algum modo, ela sentiu que devia o mesmo.

Não como forma de reconquista. Nem por medo de perdê-lo.

Mas por respeito.

Por reciprocidade.

Por amor, talvez.

Respirou fundo. As mãos pairavam sobre o teclado como se tateassem as palavras antes de escrevê-las.

Digitou devagar. Pensando em cada frase.

Cada ponto.

Cada silêncio necessário.

Assunto: Sobre o tempo.

Arthur,

Li sua mensagem muitas vezes.

Não com olhos aflitos ou urgência
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