A noite em Lisboa havia descido silenciosa, como se o mundo inteiro estivesse num compasso de espera. As luzes dos postes acesos refletiam nas calçadas úmidas, e uma brisa fria entrava pelas frestas da janela do meu quarto. Helena não se cobriu. Ficou ali, sentada na cama com o notebook sobre as pernas, encarando a tela em branco.
O e-mail de Arthur ainda pulsava dentro dela como se fosse ontem. Mas já fazia três dias.
Ela soube, desde o momento em que clicou para abrir, que não era uma despedida. Também não era um convite. Era o que ele prometeu: verdade. E, de algum modo, ela sentiu que devia o mesmo.
Não como forma de reconquista. Nem por medo de perdê-lo.
Mas por respeito.
Por reciprocidade.
Por amor, talvez.
Respirou fundo. As mãos pairavam sobre o teclado como se tateassem as palavras antes de escrevê-las.
Digitou devagar. Pensando em cada frase.
Cada ponto.
Cada silêncio necessário.
Assunto: Sobre o tempo.
Arthur,
Li sua mensagem muitas vezes.
Não com olhos aflitos ou urgência