Helena trancou a porta do flat num gesto mecânico, sem sequer olhar em volta. Tinha passado o dia inteiro tentando se concentrar no trabalho, mas a tensão nos ombros não diminuía. Pelo contrário: a sensação de estar à beira de algo inevitável crescia cada vez que ela se lembrava do olhar de Arthur na véspera.
Ela largou a bolsa sobre a cadeira e respirou fundo, fechando os olhos. Precisava fazer qualquer coisa que a mantivesse ocupada — qualquer coisa que não fosse pensar no que ele dissera.
Foi então que se lembrou da caixa.
Estava guardada no alto do armário do quarto desde a mudança. Uma caixa de papelão comum, lacrada com fita adesiva, mas que guardava o que restara da vida antiga dela: documentos do pai, recibos, cartas, anotações.
Por meses, Helena evitara mexer naquilo. Não queria remexer em lembranças que ainda doíam. Mas agora… precisava de respostas.
Ela puxou uma cadeira e alcançou a caixa. Depositou-a sobre a cama com cuidado, como se contivesse algo frágil. As mãos tremia