O domingo amanheceu com uma névoa tão densa que parecia ter engolido todo o bairro. Helena acordou cedo outra vez, embora desejasse apenas dormir até tarde, fingindo que o mundo lá fora não existia.
Tomou banho devagar, vestiu uma calça preta simples e uma blusa de tricô azul-escuro. Prendeu o cabelo num coque desleixado, como se quisesse passar despercebida mesmo que ninguém fosse notar.
Saiu do flat pouco depois das nove. Precisava caminhar. Respirar. Talvez entrar na livraria do centro e perder algumas horas folheando títulos que não compraria.
O ar frio bateu no rosto como um alerta. Helena apertou o cachecol em torno do pescoço e começou a andar sem rumo muito definido, os pensamentos ainda embaralhados.
Tentava lembrar quem era antes de tudo aquilo. Antes de Londres, antes do contrato, antes de Arthur Valente ocupar um lugar tão perigoso em sua mente.
Quando chegou ao centro, o comércio começava a despertar. Algumas vitrines acendiam luzes tímidas, e o cheiro de café fresco esca