Amara
Aprendi a ler o humor de Damian pelo silêncio. Silêncio curto: perigo próximo. Silêncio comprido: tempestade planejada. Naquele fim de tarde, ele estava no segundo tipo. O escritório do andar inferior, o que mais parece ponte de comando do que sala, estava aberto, mas a energia pedia distância. Eu deveria ter ficado no meu quarto. Não fiquei.
Desci com um caderno na mão, um pretexto qualquer. Victor estava ao telefone, falando baixo em um canto. Ao me ver, apenas assentiu, como quem diz “não agora” sem falar. Ignorei. Bati de leve na moldura da porta do escritório e ouvi a voz de Damian lá dentro, dura como fecho de cofre.
— Não volto atrás — ele dizia. — Você já teve mais do que merecia.
Outra voz respondeu, macia e perigosa, um timbre que eu não conhecia. Fiquei na sombra do corredor, atrás da estante lateral. O vidro da fachada devolvia a cidade inteira e, entre reflexos, eu via a silhueta de um homem sentado diante da mesa de Damian, pernas cruzadas, anel pesado no dedo.
— V