Damian
A manhã nasceu com luz limpa. Não era comum. A cidade costumava acordar com barulho, mas hoje o céu parecia querer conversar. Eu encostei as mãos na mureta do terraço e deixei o vento bater no rosto. Ainda havia cheiro de cinza nos cantos, porém menor do que ontem. Respirei fundo. Voss tinha ficado para trás. O mundo, não.
Ronan apareceu com duas xícaras. Pousou uma perto de mim.
— Você dormiu? — perguntou.
— Um pouco — respondi. — O suficiente para saber o que preciso fazer.
Ele me estudou por um segundo. O olhar dizia que já tinha adivinhado.
— Coletiva?
— Global.
Viktor entrou na conversa pelo ponto no meu ouvido:
— “Se você falar, todo mundo vai escutar. Se ficar calado, vão falar por você. Prefiro a primeira.”
— Eu também — disse. — Sem símbolos. Sem bandeiras. Só eu e a verdade.
Fui para o andar de baixo. Amara estava na cozinha, cabelo preso, moletom cinza, cortando frutas. Ela ergueu os olhos e entendeu antes de eu dizer.
— Você vai falar com o mundo.
— Vou.
— Quando?
—