Amara
Os dias depois da coletiva foram diferentes. A cidade ainda discutia, mas o ar parecia menos pesado no meu peito. Eu acordava cedo, fazia chá, respondia mensagens dos abrigos, organizava as novas rotinas de segurança com Ronan e, quando sobrava uma fresta, subia ao terraço só para lembrar que havia céu.
Numa dessas manhãs, o corpo me avisou antes da cabeça. Um enjoo leve, uma tontura mansa, um sono que vinha como abraço. A marca no ombro ficou mais quente que o normal, como se alguém tivesse encostado uma moeda morna na pele. Tentei culpar o cansaço, mas a ideia veio como quem sussurra e não solta mais: pode ser.
— Mirella? — chamei pelo interfone. — Você pode subir?
Ela apareceu com aquele jeito de ver além. Eu contei dos enjoos, da marca, do cansaço diferente. Ela me escutou com atenção, pediu para ver meu ombro, tocou com as pontas dos dedos e sorriu do jeito que só quem já sabe sorri.
— A Deusa te abençoou, Luna. Você carrega o futuro.
Fiquei muda um segundo, como se alguém