Cinco anos atrás, ela morreu sob a lua cheia. Ou pelo menos foi isso que o Alfa acreditou. Desde então, Cassian governa sua alcateia com punhos de aço e um coração em ruínas. Sua luna, sua metade, foi arrancada por um ataque brutal e com ela, o último vestígio de quem ele era. Mas agora, algo estranho acontece: uivos antigos ecoam em sua mente, e os sonhos têm cheiro de jasmim e sangue. Ela está viva. E não se lembra de nada. Transformada em uma loba feral, criada por bruxas que odeiam a ordem dos alfas, a mulher que um dia foi sua companheira é agora uma ameaça imprevisível — e talvez não queira ser encontrada. Para tê-la de volta, Cassian terá que abrir mão do título, do poder e do orgulho. E ela terá que decidir se o laço que os une é amor... ou apenas instinto.
Ler maisSaryn voltou sozinha aos seus aposentos, os corredores estavam silenciosos e ela se perguntou se todas as noites no Forte dos Lobos eram daquele jeito. Se acostumara com a confusão no covil das bruxas, elas eram barulhentas e escandalosas, estavam sempre discutindo algo ou implicando umas com as outras.Pensou em Lerya, o Alfa perguntara sobre a bruxa e Saryn simplesmente não conseguiu dizer mais que algumas simples palavras, naquele momento ela sentiu como se sua garganta estivesse se fechando para as verdades óbvias. Ela não conseguiu externalizar que foi o rosto de Lerya que ela viu primeiro ao abrir os olhos deitada na mesa de pedra do covil, ou que foi Lerya quem ficou mais próxima dela e por vezes até a protegeu das outras bruxas.Elas não tinham uma relação amigável mas Saryn não tinha uma relação com qualquer pessoa até então, sentia quase um afeto materno por Lerya, mesmo que a bruxa não pudesse ser mãe de uma loba, ou que ela não agisse como tal.
A água escorria quente pelos ombros de Saryn, como se quisesse arrancar dela não apenas a sujeira dos últimos dias, mas qualquer vestígio de memória. As mãos cuidadosas de Mira se moviam com delicadeza sobre seus cabelos, massageando o couro cabeludo com uma intimidade gentil demais para ser desconfortável.— Não vai doer — disse a jovem, espremendo um pouco do sabão líquido em suas mãos. — Esse aqui é de lavanda com flor de jasmim. As crias odeiam, dizem que cheira a velha rica, mas eu acho uma delícia.Saryn assentiu, sem saber muito bem o que responder. O aroma era mesmo agradável, mas não despertava nela nenhuma memória específica. Nada despertava.— Faz tempo que alguém cuidou de você assim?A pergunta soou como um afago, mas Saryn engoliu em seco. Tentou procurar alguma lembrança, uma mãe, uma irmã, uma amiga. Mas o vazio respondeu em seu lugar.— Não lembro — disse ela, baixo.Mira pareceu notar o desconforto e mudou de assunto com leveza.— Bom, você chegou num bom momento. O
A mata se abriu lentamente diante da matilha que voltava em silêncio, deixando atrás de si o cheiro de sangue queimado e magia dissipada. Cassian caminhava à frente, o corpo coberto por uma manta escura que também protegia a figura frágil em seus braços. Ela dormia com o rosto colado ao peito dele, a respiração ainda irregular. O calor da pele dela era uma promessa incômoda, mas não era só isso. Ela sussurrava algo... antigo. Ao atravessarem os portões do clã, o silêncio foi quebrado por murmúrios e olhares desconfiados. Ninguém ousou se aproximar. Ninguém além de Mira. — Ela está bem? — perguntou a beta, acompanhando o ritmo apressado do alfa. — Vai ficar — murmurou Cassian. — Preciso que você se certifique que ninguém vá até a ala norte, vou acomodar ela próxima ao meu quarto, assim é mais fácil ficar de olhos. — Sim, alfa. — Ela assentiu, rápida, e sumiu pelos corredores. Cassian levou-a para um dos quartos onde o som da floresta ainda podia ser ouvido pelas janelas altas. Dei
A sala estava mergulhada numa penumbra pesada, iluminada apenas pelas chamas trêmulas da lareira. O cheiro de madeira queimada e terra úmida invadia o espaço enquanto Cassian permanecia de pé, o olhar fixo nos rostos atentos dos guerreiros reunidos ao seu redor. A tensão era palpável, como se o ar pesasse sobre todos. — Não podemos esperar mais, — Cassian começou, a voz firme, cortando o silêncio. — A Luna está presa nas mãos das bruxas. Cada dia que ela permanece lá, o elo que a une à alcateia enfraquece. Se não a resgatarmos agora, pode ser tarde demais. Alguns franziram o cenho, outros trocaram olhares preocupados. Thorne, seu batedor mais rápido e fiel, permaneceu calado, os punhos cerrados sobre o joelho. — Enfrentar as bruxas não é uma tarefa simples, — Cassian continuou, — elas dominam magia antiga. Por que essa Luna seria problema nosso, Alfa? — Qualquer lobo neste território é um problema meu, Thorne. — Cassian rosnou. — Tenho o compromisso de manter todos em segura
Cassian estava só. No alto da torre, o vento frio se esgueirava entre as pedras antigas, trazendo o cheiro úmido da floresta além dos muros da alcateia. A lua cheia brilhava intensa, uma esfera prateada que parecia observar tudo e nada ao mesmo tempo. Ele apoiou as mãos no parapeito, sentindo o peso de cada segundo naquela noite que nunca parecia ter fim.Há cinco anos, naquela mesma noite, ele perdera tudo. Sua Luna, sua metade, desaparecera em meio ao caos, engolida por uma escuridão que ele nunca conseguiu enfrentar de verdade. Cassian fechou os olhos, tentando afastar a lembrança confusa, o fogo, os gritos, o cheiro de sangue que não saía de sua pele. Não sabia se ela morrera ou fora levada, só sabia que ele ainda a buscava, mesmo que no fundo soubesse que aquele vazio jamais seria preenchido.Um uivo distante cortou o silêncio, um som antigo que atravessou o ar gelado e penetrou seu peito. Cassian estremeceu, como se uma chama invisível tivesse sido acesa em suas entranhas. O som