Damian
A noite caiu como um aviso. O vento empurrava as janelas da cobertura com dedos frios, e a cidade parecia falar em voz baixa. Eu caminhei de um lado a outro da sala, sem ligar as luzes.
Só o brilho dos prédios recortava o escuro. Amara não voltou do quarto desde o jantar, e cada minuto que passava era uma corda mais tensa na minha espinha.
— “Espere”, — eu dizia a mim mesmo. — “Espere.”
A disciplina é a cerca que me mantém do lado correto do mundo. Mas vontade, quando cresce sozinha, vira floresta.
Bati os nós dos dedos no bar, duas vezes, e parei quando ouvi a porta do corredor. Ela surgiu devagar, com uma camiseta larga e um short de algodão, os pés descalços, o cabelo solto como se a casa inteira fosse um risco calculado. Parou diante de mim, sem medo, sem rendição.
— Não vai dormir? — perguntou.
— Ainda não.
— Nem eu.
O silêncio entre nós tinha um tipo de gravidade. Ela se aproximou da janela e ficou olhando a cidade. Eu a segui com os olhos, não com os passos. A linha do