DORIAN
A sala está silenciosa, exceto pelo som dos dedos de Benjamin batendo ritmicamente no tablet. Ele revisa um contrato que não é o nosso. Que não tem o nome dela. Mas mesmo assim, parece que tudo ali é sobre ela.
A vista da cidade está coberta por nuvens densas. Cinza sobre cinza. Exatamente como minha cabeça desde que deixei Lara sair ontem.
Eu não dormi. Não por falta de cansaço. Mas porque saber que ela podia, a qualquer momento, desaparecer outra vez — e agora com minha permissão — me paralisava mais do que qualquer relatório de perdas.
— Vai me dizer o que está realmente passando por essa sua cabeça ou vamos continuar fingindo que esse silêncio é produtivo? — Benjamin pergunta, sem levantar os olhos da tela.
— Não sei se ela vai continuar — admito, por fim. E só de dizer em voz alta já sinto algo afundar no estômago.
Benjamin levanta o olhar, sério.
— E se não continuar?
Penso. Engulo seco. Me levanto e caminho até a janela. A cidade vibra lá fora com sua pressa. Aqui dentro