LARA
Três meses se passaram desde o dia em que a dor tomou tudo.
Três meses desde que meu corpo apagou para proteger o que ainda havia de mim. Desde que descobri que não estava mais sozinha — não de verdade — porque dentro de mim batia um coração novo. Um coração pequeno, mas já imenso demais para caber em qualquer explicação.
Agora, o tempo desacelera.
O outono chegou, e com ele vieram os dias mais curtos, o cheiro amadeirado no ar, os cobertores deixados sobre o sofá. Minha barriga começa a desenhar sua presença por baixo dos vestidos de algodão, e Dorian fala com ela como se ela entendesse. E talvez entenda.
A casa ficou mais silenciosa desde que Cat e David viajaram para a filial no Oriente Médio. Minha mãe fez outra cirurgia e tem se recuperado no seu ritmo. Lê. Caminha. Fala pouco. Pensa muito. Nunca força uma conversa. Não toca no assunto. Não insiste em desculpas.
Depois de tudo, aceito a palavra do neurologista: a primeira cirurgia a livrou da doença, mas abalou seu cérebro.