DORIAN
Quando abro a porta de casa, não espero encontrar risos.
O dia foi longo, como todos os últimos têm sido. As reuniões se arrastaram, as decisões exigiram mais diplomacia do que estou acostumado a ceder, e o trânsito parecia querer provar que cidade tem alma de tortura. Mas é esse som — esse som específico — que me faz parar no corredor e esquecer tudo.
Uma gargalhada. Alta. Solta. E outra em seguida.
Duas vozes femininas, em perfeita sintonia, rindo como se o mundo não tivesse mais nenhuma dívida com elas.
É isso. A dívida foi paga.
Sigo o som até a sala de estar. A iluminação é suave, as luzes indiretas espalhadas pelos cantos dão um ar de lar, de colo. A TV está ligada em um filme antigo, daqueles de comédia romântica em que todo o roteiro gira em torno de mal-entendidos, cafés derramados e reencontros no aeroporto.
Lara está recostada no sofá, uma almofada apoiando a base das costas, os pés descalços cobertos por uma manta azul. Ao lado dela, sua mãe — sim, sua mãe, porque a