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📖 CAPÍTULO 3 — A PARTIDA

A madrugada chegou rápido demais.

Anna passou a noite acordada, sentada ao lado do leito de Beatriz, observando os movimentos lentos do peito da mãe, o som constante do monitor cardíaco e o silêncio pesado do quarto 212. A luz fluorescente deixava tudo mais frio, mais real.

Ela segurava a mão da mãe como se pudesse gravar o toque para sempre.

— Mãe… — sussurrou, com a voz embargada. — Eu preciso ir resolver algumas coisas. Mas eu volto antes do almoço, tá? Prometo.

Beatriz abriu os olhos, cansados demais para suspeitar.

— Minha filha… vai com Deus.

Foi como receber um golpe no peito.

Anna engoliu o choro, beijou a testa da mãe e saiu do quarto antes que Beatriz percebesse a lágrima que escapava.

---

Do lado de fora do hospital, o céu ainda era um azul profundo, e a cidade parecia adormecida. Anna caminhou rapidamente, o envelope de Pedro escondido por baixo da jaqueta. Cada passo parecia um passo rumo ao desconhecido.

Quando chegou ao endereço enviado por Elisa, encontrou um galpão discreto, afastado das avenidas principais. As janelas estavam cobertas por papelão e não havia nenhuma placa indicando o que era o lugar.

Elisa a esperava na porta.

— Você veio… — disse aliviada, puxando-a para dentro.

— Eu disse que viria — respondeu Anna, tentando soar firme.

Dentro do galpão, algumas mulheres jovens estavam sentadas em cadeiras de plástico, com mochilas pequenas aos pés. Todas com expressões tensas. Todas com medo.

Elisa explicou:

— É aqui que vocês recebem as instruções antes de viajar. O Pedro vai chegar daqui a pouco.

Anna observava as outras mulheres. Uma delas tremia tanto que mal conseguia segurar a garrafa d’água. Outra estava abraçando o próprio corpo como quem tenta impedir que o mundo entre.

De repente, a porta lateral se abriu com força.

Pedro entrou.

Ele caminhou até o centro do galpão e bateu palmas, chamando atenção.

— Bom dia pra quem merece. Vamos ao que interessa.

Ele começou a explicar o processo, sem qualquer sensibilidade:

— Cada uma de vocês vai receber o material, aprender a engolir os cápsulas do jeito certo e assinar o contrato de viagem. A partir desse momento, vocês estão sob a nossa responsabilidade. Se seguirem as regras, chegam vivas ao destino. Se não seguirem… bem, já devem saber.

Uma das mulheres ergueu a mão.

— E se a cápsula quebrar?

Pedro a encarou frio.

— Ora, você morre.

Simples assim.

Um murmúrio de pânico percorreu o grupo.

Elisa apertou o braço de Anna discretamente, tentando acalmá-la, mas o medo já estava encostado em sua pele como gelo.

Pedro continuou:

— Hoje vocês viajam para o México. Amanhã, cruzam a fronteira. O transporte já está pago. A partir daqui, não existe mãe, não existe filho, não existe ninguém. Vocês pertencem ao trajeto. Entendido?

Ninguém ousou responder.

Anna respirava rápido, o coração disparado. Queria gritar, correr, voltar para o hospital. Mas a imagem da mãe, fraca e sem recursos, prendia seus pés ao chão.

Pedro abriu uma caixa metálica e tirou pequenas cápsulas brancas, embaladas a vácuo.

— Anna Santos — chamou.

Ela congelou.

Elisa a empurrou suavemente.

— Vai… confia.

Anna deu um passo à frente, depois outro.

Pedro colocou duas cápsulas na frente dela. Só duas para começar.

— Aprende agora. O resto vem depois.

Anna olhou para as cápsulas como se fossem serpentes prestes a atacar. O estômago embrulhou. As mãos suaram.

Pedro inclinou a cabeça, impaciente.

— Vamos. Ou muda de ideia e devolve o envelope.

Devolver significava condenar a mãe.

Anna pegou uma das cápsulas com dedos trêmulos.

Fechou os olhos.

E engoliu.

Sentiu a cápsula descer pela garganta como uma pedra afiada. Engoliu a segunda. A sensação era pior ainda. O medo, mais forte. O arrependimento, imediado.

Pedro sorriu satisfeito.

— Muito bem. Vai ser útil pra mim.

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Horas depois, Anna estava sentada no aeroporto, com um grupo de mulheres que tentavam parecer turistas comuns. Elisa não estava mais com ela. Pedro também não. Agora, estava sozinha.

O avião para o México já anunciava o embarque.

Anna olhou pela última vez para o celular — a foto dela com a mãe sorrindo em Vila Jardim do Sol.

As lágrimas vieram antes que ela pudesse impedir.

— Me perdoa, mãe…

Guardou o celular, respirou fundo e levantou.

Era hora de partir.

Sem saber que, naquela mesma manhã, no quarto 212 do Hospital Madre Bernadete…

o coração de Beatriz estava prestes a parar.

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