A primeira coisa que senti foi o peso na cabeça, como se meus pensamentos estivessem grudados em algodão. Pisquei algumas vezes, tentando entender onde estava, mas a escuridão só me devolvia vultos e formas imprecisas.
Um abajur aceso no canto deixava o quarto mergulhado numa penumbra dourada. Os móveis, elegantes, revelavam contornos que eu não reconhecia — uma poltrona encostada à parede, uma penteadeira antiga, cortinas pesadas bloqueando quase toda a luz de fora. O ar tinha cheiro de madeira polida misturado com maresia. Meus ouvidos captaram o som distante e ritmado de ondas quebrando, como se o mar estivesse logo ali. Tentei me sentar. O corpo protestou, lento, pesado. Meus pés afundaram num tapete espesso demais para ser acaso. Caminhei até a porta, girei a maçaneta. Trancada. O frio percorreu minha espinha. Me forcei a puxar a última lembrança clara: o carro da Bennet Crown… o motorista… não era o motorista.