Onde o tempo prende o coração.
NORMAN PAIXÃO CASSANI
O bunker cheirava a metal e solidão.
No início, eu tentava me convencer de que era seguro — que aquelas paredes me protegiam, não me aprisionavam. Mas o silêncio começava a machucar.
Os sons eram sempre os mesmos: os passos firmes de André, as teclas rápidas de Ravi e o eco distante de um gerador que nunca descansava.
Caminhei descalça pelo corredor estreito, o chão frio sob os pés, e pensei em Leo.
Queria ouvir a voz dele. Queria acreditar que ele estava bem. Mas cada vez que André desviava o olhar, ou Ravi ficava sério demais, o medo crescia.
Entrei na cozinha.
André estava sentado à mesa, desmontando uma pistola com precisão irritante.
— Algum problema? — perguntei, tentando soar leve.
Ele levantou o olhar. — Nenhum. Só rotina.
— Você fala isso como se rotina fosse boa.
— Às vezes é. — Deu de ombros. — Rotina significa que ninguém morreu.
Sentei-me à frente dele. — E você? Vai morrer de silêncio?
André arqueou uma sobrancelha.