O silêncio da sala parecia ter se estendido até o lado de fora da casa. Cada um de nós foi tomado por uma espécie de torpor — como se as paredes, os móveis, até o ar que respirávamos, tivessem absorvido o peso daquela descoberta. A pulseira, o rubi, o nome dela… Helen.
Papai saiu primeiro, levando o pano dobrado com extremo cuidado, como se carregasse um pedaço de verdade prestes a se despedaçar. Heitor o seguiu, ainda sem entender direito o que havia desencadeado. Ficamos só nós três — eu, Antônio e mamãe — e o bebê que dormia no berço improvisado sobre a mesa.
Antônio continuava imóvel, olhando o chão. Eu o conhecia bem o bastante para saber que dentro dele havia uma guerra. Parte queria negar, parte já sabia.
— Antônio… — falei, baixinho.
Ele ergueu o olhar, e o que vi ali me apertou o peito: raiva, medo, incredulidade.
— Se for ela, Aurora… — disse, num fio de voz. — Se for mesmo ela…
— Então vamos descobrir — respondi, sem hesitar. — É por isso que precisamos ir agora.
Mi