O escritório de papai parecia ainda mais silencioso do que de costume. O cheiro forte de café fresco misturava-se ao leve odor de fumaça que insistia em nos acompanhar desde o rancho. As janelas estavam abertas, mas o ar parecia pesado demais para circular.
Antônio estava de pé, de frente para a janela. Eu, sentada ao lado de mamãe, sentia o nervosismo dela no modo como alisava o pano do vestido. Meu pai, atrás da mesa, observava o genro sem dizer nada — como se já soubesse que o que viria a seguir não seria fácil de ouvir.
O silêncio durou mais do que deveria. Até que Antônio se virou, as mãos apoiadas na beirada da mesa.
— Eu acho que o incêndio não foi um acidente.
Papai franziu o cenho, trocando um olhar rápido com minha mãe.
— Como assim, rapaz?
Antônio respirou fundo.
— Os bombeiros encontraram um galão de combustível atrás do celeiro. O fogo começou ali. Tudo indica que alguém colocou fogo de propósito.
Mamãe levou a mão à boca.
— Meu Deus do céu...
José endireito