O cheiro de lavanda na casa parecia mais forte naquela manhã. Luna acordou cedo, como sempre, mas não desceu para o café. Permaneceu no quarto, deitada de lado, observando o sol escorrer pelas frestas da cortina como se tentasse invadi-la.
O rosto de Rafael ainda estava vivo na memória. As palavras dele, os olhos... tudo nela gritava para esquecer, mas o corpo lembrava. Não era saudade. Era cicatriz.
Flashback.
Quatro anos antes.
— Você tá mesmo indo com esse vestido? — Rafael perguntou, encostado na porta do quarto.
Luna se olhou no espelho. Um vestido simples, floral, decotado na medida certa. Ela sorriu, insegura.
— Tá demais?
— Tá barato.
Foi só isso. Dois segundos. Uma palavra.
Mas ela voltou. Trocou de roupa. Mais de uma vez. E, ao sair de casa, usava uma blusa fechada até o pescoço.
E esse era o padrão.
Comentários sutis. Críticas disfarçadas. Controle mascarado de cuidado.
Rafael nunca gritou. Nunca bateu.
Mas esvaziava Luna por dentro, um dia de cada vez.
O tempo com ele tinh