DOMINICK
O som do relógio no escritório batia lento, cruel, como se o tempo estivesse zombando dele. Dominick Santorini encarava os papéis à sua frente, mas sua mente estava longe dali — estava em Laura.
A guerra com os Lombardi não era mais uma questão de território ou negócios. Era pessoal.
— Eles não vão parar — disse Henrique, entrando na sala com uma pasta preta em mãos. — Lorenzo está quieto demais desde que você recusou o acordo de casamento. Isso não é bom sinal.
Dominick desviou o olhar dos papéis e apoiou o charuto aceso na borda do cinzeiro. Seus olhos verdes estavam escurecidos por sombras internas.
— Eu sei que não vão parar. E sei o que vêm buscar.
— Você?
— Não. Ela.
Henrique travou.
— Você acha que vão atrás da garota?
— Eu tenho certeza. E por isso ela está longe de mim agora.
Henrique franziu o cenho.
— Você deixou ela ir?
— Ela quis voltar pra casa. Disse que precisava pensar.
— E você deixou?
Dominick bateu o punho contra a mesa.
— Eu não posso forçar ela a nada. Mas o apartamento já está monitorado. Há seguranças disfarçados em cada quarteirão.
— E quando Lorenzo perceber?
— Ele já percebeu. É só questão de tempo até testar minhas defesas.
Henrique se recostou na poltrona diante dele.
— Você a ama?
Dominick ficou em silêncio.
— Eu nunca soube o que é isso. Mas... se alguma coisa acontecer com ela, Henrique... eu destruo essa cidade inteira.
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LAURA
Laura andava de um lado para o outro no pequeno apartamento que já não parecia mais seu. Tudo nela estava em conflito — o coração dizia para voltar correndo para Dominick. A razão gritava para fugir o mais longe possível.
Mas ela não conseguia ignorar o que sentia quando ele a olhava.
Mesmo com todo o medo.
Mesmo com todas as dúvidas.
Naquela manhã, Cristina a visitou, surpresa por ela ter sumido nos últimos dias.
— Você está bem? O que está acontecendo?
Laura hesitou.
— Eu conheci alguém.
— E... é sério?
— É complicado.
— Laura, você está me assustando. Ele é violento? Abusivo?
— Não. Pelo contrário. Ele... me protege. Mas ele é perigoso.
Cristina arregalou os olhos.
— Ele é da máfia?
Laura não respondeu.
E esse silêncio respondeu por ela.
— Meu Deus... Você tá se envolvendo com um mafioso?
Laura abaixou os olhos.
— Não sei como parar. Eu tentei. Mas ele... ele me faz sentir coisas que eu nunca senti antes. Me sinto viva. Me sinto forte... E ao mesmo tempo, vulnerável.
— Isso não é romance, é uma armadilha.
Laura suspirou. Não sabia como explicar. Dominick não era só perigo. Era vício.
E ela já estava presa.
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LORENZO LOMBARDI
Do outro lado da cidade, Lorenzo caminhava em um salão luxuoso, decorado com ouro, vinho e veludo. Seus olhos estavam cravados nas telas de vigilância.
— Essa é a garota — disse um de seus homens, ampliando a imagem de Laura saindo do apartamento.
Lorenzo observou por longos segundos. Depois, sorriu.
— Frágil. Assustada. Exatamente como eu gosto.
— O que fazemos?
— Mandamos um recado. Nada que a mate... ainda. Mas algo que deixe Dominick com sangue nos olhos.
— E se ele reagir?
Lorenzo riu.
— Ele vai reagir. É o que eu quero. Se perder o controle... eu venço.
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DOMINICK
O telefone tocou.
Era Enzo.
— Senhor... recebemos algo.
Dominick franziu o cenho.
— O que foi?
— Uma caixa. Endereçada à mansão. Sem remetente.
— Conteúdo?
— Um colar. Ensanguentado. Da garota.
Dominick congelou.
— O quê?
— O colar que ela usava... tinha as iniciais da mãe dela. Está coberto de sangue.
Dominick pegou as chaves sem dizer nada. Saiu como um furacão. O carro derrapou na entrada da garagem. Ele dirigia como um louco até o apartamento de Laura.
Quando chegou, ela estava ilesa. Confusa.
— O que está acontecendo? — perguntou, surpresa ao vê-lo invadindo o apartamento com dois homens armados.
Dominick a segurou pelos ombros.
— Você está bem? Alguém te seguiu? Tocou em você?
— Não! Eu... só saí pra comprar pão...
Ele puxou um colar de dentro do paletó. Um igual ao dela. Coberto de sangue.
Laura levou a mão ao pescoço. Seu colar estava ali. Intacto.
— É uma cópia — ela sussurrou.
Dominick olhou em volta.
— Estamos indo embora. Agora.
— Dominick...
— Eles estão jogando sujo. E eu... vou esmagá-los.
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LORENZO
Lorenzo recebeu o vídeo que seus homens gravaram da reação de Dominick.
Sorriu ao ver o desespero no rosto do rival.
— Pronto. Agora ele está vulnerável. E quando homens como ele se apaixonam... eles perdem.
— E o que fazemos com a menina?
— Ainda não. Agora ela é a isca.
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LAURA
De volta à mansão, Laura andava em círculos pelo quarto de hóspedes. Dominick estava trancado no escritório com homens de terno. Ela sabia o que estava acontecendo. E não aguentava mais ser a vítima, o alvo, a presa.
Esperou até a madrugada. Saiu do quarto. Caminhou silenciosa até o escritório.
Abriu a porta sem bater.
Dominick estava sozinho, em pé, olhando para um mapa com círculos vermelhos e fotos de homens armados.
Ele se virou, tenso.
— Laura... não devia estar aqui.
— Eu estou aqui porque não quero mais ser uma boneca de porcelana guardada em caixa.
— Isso não é um jogo.
— Eu sei. Mas eu sou parte disso agora. Querendo ou não.
Dominick se aproximou, os olhos brilhando.
— Você é minha parte boa, Laura. A única coisa que ainda tem luz.
— Então me deixa ser sua luz por inteiro. Me conta tudo. Me deixa lutar com você.
Ele passou a mão pelos cabelos, frustrado.
— Se eu te contar tudo... você nunca mais vai olhar pra mim da mesma forma.
Ela tocou seu rosto.
— Já vi seu lado mais sombrio. E ainda estou aqui.
Ele respirou fundo, e pela primeira vez... começou a contar.
Sobre o império Santorini. Sobre os navios. O tráfico de armas disfarçado de turismo. Os acordos. Os assassinatos.
E então, sobre Lorenzo Lombardi.
— Ele era como um irmão. Até que tentou me trair. Agora, quer minha cabeça. E sabe que te ferir... é me ferir.
Laura ouviu tudo em silêncio. E, quando ele terminou, o abraçou.
— Eu não vou fugir.
Dominick a apertou com força. Como se ela fosse seu último pedaço de humanidade.
E naquele abraço, uma guerra foi selada.
Não apenas contra os Lombardi... mas contra o destino.