Em uma narrativa intensa, inesquecível e emotiva, Artur Montenegro, um bilionário decadente, é confrontado por seu pai com um ultimato: Casar‑se em 30 dias ou perderá sua herança e a presidência da Montenegro Empreendimentos. Desorientado e sem rumo, Artur vive em motéis decadentes e bares sórdidos até encontrar Lara Matos, professora de educação especial, reconhecida por sua sensibilidade ao cuidar de crianças com autismo. Após ser amparado por ela em uma crise tão dramática, ele propõe um contrato de casamento: um ano, confidencialidade rigorosa, privacidade absoluta, duas suítes independentes e assistência financeira generosa e a tentativa de conseguir a guarda de seu amado filho adotivo. Movido por um misto de propósito, orgulho ferido e um desejo inabalável de redenção, Artur investiga o passado de Lara com o apoio do fiel amigo Reinaldo, delineando cláusulas de sigilo estritas e penalidades severas para qualquer vazamento. Em um elegante jantar na mansão Montenegro, Lara mostra autenticidade, firmeza e empatia, conquistando o respeito do patriarca Josué Montenegro. O matrimônio formal se revela um teste delicado: Artur enfrenta seu vício e inconsequência, enquanto Lara luta para manter sua rotina estruturada a fim de proteger Gabriel, seu filho adotivo autista de nível três de suporte. Paralelamente, o pai biológico de Gabriel, filho ilegítimo de Lara, sob o pretexto de levar a criança para tratamento na França, confia Gabriel aos cuidados cruéis de sua madrasta, Raquel. Ela comete abusos físicos e psicológicos, mascarando as marcas como consequências das crises de autismo. Gabriel, de nove anos, vive em constante medo, ansiando pelo abraço terno de Lara e pela justiça que ela poderia garantir. A trama explora responsabilidade, redenção, falsidade e a força do amor altruísta, questionando se esse casamento por conveniência será a ponte para curar feridas profundas e reconstruir verdades perdidas, ou será a destruição de todos.
Ler maisO Ultimato
O sol ainda estava tímido no céu quando Artur Montenegro, aos quarenta e três anos, acordou com a boca seca, o gosto amargo da ressaca colado na língua e o zumbido irritante do telefone vibrando sobre a mesa de cabeceira. O quarto de hotel cinco estrelas, ainda mergulhado pela escuridão protetora das cortinas pesadas, cheirava a uísque caro, perfume feminino e decepções repetidas. Mulheres eram odiosamente necessárias. Sempre dizia que quem gostava de mulher eram os gays, homens gostavam de sexo. Ele se espreguiçou, os olhos queimaram ao tentar focar no visor do aparelho. Era o pai. Outra bronca às sete da manhã? Mas que saco. Estou com dor de cabeça, fala logo! — Esta é sua última chance, Artur. Se você não se casar até o final deste mês, perde tudo. Presidência da Montenegro Empreendimentos, parte da herança, os carros, os cartões, tudo! — Casamento? Pai, pelo amor de Deus, isso é um absurdo! —Eu nem tenho uma namorada! — Absurdo é ver o nome da nossa família sendo arrastado pela lama enquanto você torra dinheiro com mulheres e bebidas. —Chega, Artur. Se não apresentar uma esposa em trinta dias, está fora. É minha última palavra. O ruído de que a chamada tinha sido encerrada soou em seguida. Artur ficou sentado na cama, tentando entender se aquilo era um pesadelo ou apenas mais um dia comum na sua vida desregrada. A sobriedade se apresentou como uma tirana. Passou as mãos nos cabelos grisalhos e se levantou, meio cambaleando até o frigobar. Mais uma dose resolveria aquele problema, sempre resolvia. Três dias depois, a discussão havia escalado para um confronto pessoal. Artur foi até a mansão dos Montenegro, disposto a resolver aquilo à sua maneira, com charme e arrogância. O que encontrou, porém, foi um pai decidido e implacável. — VOCÊ VAI SAIR DESTA CASA HOJE, ARTUR. AGORA. — Não está falando sério, pai! Eu sou seu filho. — Estou. Os cartões já estão bloqueados. A conta do banco, também. Vai aprender a dar valor à vida, à responsabilidade. —Quando estiver pronto, com uma mulher ao seu lado, voltamos a conversar e nem ouse me apresentar uma das putas com quem anda saindo. Uma mulher do nível da nossa família Artur. Uma mala foi posta em seu carro, ao menos isso ainda poderia ter. Artur, atordoado, se viu na rua com apenas uma mala, um celular e um carro que, talvez, em breve também seria retirado. Nunca havia trabalhado, não de fato. Costumava tomar decisões, mandar em pessoas e fazer contratações de peso. Ligou para o vice-presidente do grupo Montenegro. — Reinaldo. — Eu sei seu nome, liguei para o seu telefone. — Artur, vejo que seu humor está tão bom quanto a sua reputação. — Nem brinca, preciso que fale com o meu velho. Ele enlouqueceu, estou sem ter onde dormir. — Eu sei, mas para um homem com a sua idade, morar com o pai não deveria ser uma prioridade. Pode começar alugando um flat, tem alguns ótimos na região central. — Boa! Pode me emprestar algum, só até o meu pai voltar a si. Ele vai se arrepender. — Isso não vai dar não. Seu pai vai mandar embora qualquer um que te deixar entrar na empresa ou te ajudar com alguma coisa. Está por conta própria meu amigo. Nos dias seguintes, o que se seguiu foi uma verdadeira espiral de decadência. Motéis baratos, bares de esquina, mulheres que desapareciam antes do amanhecer. Tentava manter o estilo de vida, mesmo sem recursos. Um a um, os cartões deixaram de funcionar. Naquela sexta-feira, a última garrafa foi paga em dinheiro vivo, uma nota de duzentos dólares amassada. Mas assim que estava de saída esbarrou em uma mulher. Não era qualquer mulher, os olhos pareciam conter uma chama de desejo que ele ousou imaginar. O órgão se apresentou para a batalha e ela não recuou. — Perdida princesa? Bêbada Laís respondeu com um sorriso. — Mais do que imagina. — Posso fazer você se perder ainda mais. Que acha da gente conversar lá fora? Depois te levo para casa. Assim, sem rodeios, Laís topou um motel nos arredores da cidade e Artur adorou saber que ainda tinha charme e poder. A noite foi comum, sem muitos mistérios e com bem pouco charme, ela não tinha nada de especial, na verdade a achou até um pouco tímida. Mas no momento de pagar, nada. Nenhum dos cartões passou. Tentou três, quatro vezes. Ficou nervoso, envergonhado. O recepcionista já o olhava com desdém. — Eu pago! A voz fez com que Artur virasse para trás, uma moça com roupas simples e olhos inchados estava esperando para ser atendida. Não parecia o tipo de pessoa que frequentaria um motel. — Não precisa A loira que estava ao lado de Artur jogou cinquenta dólares sobre o balcão. E falou com impaciência. — Metade da conta e faça o que quiser com esse lixo, nem gozei. Não vou pagar a conta toda. Artur ficou irritado, vermelho, mas a desconhecida ao seu lado falou com a voz suave ao recepcionista. — Por favor, cobre os dois quartos daqui. Entregou o cartão e quando recebeu de volta a nota Artur já estava sozinho. Sorriu, tentou o seu melhor, mas não conseguia ir muito além, havia passado a pior noite de sua vida. O marido a levou para aquele lugar e pediu o divórcio. Contou que estava apaixonado pela secretária e que eles iriam se casar. Pretendiam se mudar para a França e levar Leonardo, o bebê que ela havia criado como se tivesse saído do seu ventre, mas infelizmente, era filho do primeiro casamento dele. Focou em Artur, viu o constrangimento daquela situação. — Considere um favor de uma desconhecida. Ela pagou, e ele, sem ter para onde ir, acabou seguindo a mulher. Artur olhou para ela e ficou se perguntando sobre o motivo de uma mulher sair sozinha de um motel e se sentar para fumar em um banco de concreto em uma praça pública. — Pode me dar um trago?Epílogo Parte Final: Onde o Tempo Não ApagaO tempo não volta. Ele não perdoa, não espera, não negocia. Mas, às vezes, ele repara.Após a audiência que concedeu a guarda definitiva de Gabriel a Lara e Artur, a fazenda parecia respirar outro tipo de ar. Um ar mais leve, mais comprometido, mais cheio de vida. Não porque as dificuldades haviam cessado, mas porque todos haviam aprendido a viver apesar delas, e com elas.Ao longo da varanda, os jasmins floresciam em pleno outono, desafiando os ritmos previsíveis da estação. Era como se a natureza, em sua silenciosa sabedoria, tivesse compreendido que ali havia algo novo brotando:Um lar construído em meio ao caos.Uma família lapidada no improvável.Gabriel, com seus fones e caderno de desenhos, caminhava descalço entre os canteiros que ajudaram a plantar com Lara. Cada folha nova era um pequeno símbolo de sua autonomia. Ele agora falava mais, pouco ainda, é verdade, mas suas palavras, mesmo poucas, carregavam a exatidão da verdade. Q
Epílogo Parte 2Seis meses se passaram desde a audiência que oficializou o que o coração de Lara já sabia há muito tempo: Gabriel era dela. Deles. Da casa. Do futuro que construíam a cada gesto. O sol da manhã de sábado invadia as janelas amplas da sala de estar, refletindo nos quadros coloridos que Gabriel escolhera pendurar por toda a casa, desenhos feitos por ele e por outras crianças do centro terapêutico. Cada parede respirava infância, cuidado e pertencimento.Lara descia as escadas devagar, os pés descalços e os cabelos soltos. Encontrou Gabriel sentado ao lado de Josué na varanda, os dois dividindo um quebra-cabeça de animais marinhos. Josué falava devagar, mas com clareza. Desde que iniciara o tratamento, suas falhas de memória haviam estabilizado. O novo protocolo medicamentoso, somado à rotina de estimulação cognitiva conduzida com paciência por Clara e os profissionais do centro, trouxera não uma cura, mas dignidade e presença.— Esse aqui é o cavalo-marinho Dizia Jos
Epílogo 1 Raízes FirmadasSeis meses depois.O sol atravessava as janelas do antigo casarão com uma luz dourada e serena, iluminando os detalhes das cortinas floridas costuradas por Clara, agora em pleno vigor emocional. A mesa do café da manhã, posta com esmero por Lara e Gabriel, exalava o cheiro de pão fresco e bolo de milho. Artur, de camisa branca e mangas dobradas, sorria com Gabriel enquanto ajudava a colocar o suco de laranja nas canecas. A família havia se transformado num núcleo sólido, forjado por escolhas diárias, curas lentas e amor constante.Naquela manhã, o ritmo tranquilo contrastava com a tensão crescente que ocupava seus pensamentos. Em poucas horas, estariam diante do juiz para a audiência definitiva de guarda de Gabriel. Ainda que os relatórios fossem favoráveis, as emoções se embaralhavam, principalmente para Lara, que revivia silenciosamente todo o caminho percorrido até ali.Artur percebeu o silêncio dela e se aproximou por trás, pousando os lábios em seu
A Guarda Definitiva A luz fria do dia penetra pelas janelas amplas da sala de conferências da Montenegro Empreendimentos, refletindo nas superfícies de mogno e vidro que revestem o ambiente. Reúno-me à mesa de carvalho, ladeada por Lara, Josué, Reinaldo e Roberto. À nossa frente, Ronaldo e Raquel ocupam cadeiras eretas, afiando olhares de quem teme perder algo precioso: A guarda de Gabriel. O coração bate acelerado no meu peito: hoje, por fim, daremos início ao processo para resgatar o menino das garras de quem o arrancou de seus verdadeiros laços.Ronaldo levanta-se primeiro, ajustando o paletó cinza-escuro. Sua voz sai contida, porém carregada de autoridade:— Meritíssimo, apresento-me como pai biológico. Levei Gabriel à França em busca de tratamentos de ponta para seu autismo grau três. A França oferece clínicas especializadas, e minha motivação sempre foi o bem-estar dele.Ele busca o olhar do juiz, mas encontra apenas uma expressão impassível. Ao lado, Raquel cruza os braços
Círculo de ProteçãoO dia amanheceu com uma bruma espessa sobre a fazenda. A neblina parecia um véu silencioso entre o passado e o que estava prestes a se revelar. Lara acordou antes do sol nascer, o coração apertado com a notícia da matéria publicada durante a madrugada, fruto da articulação de Raquel com um blog sensacionalista.A manchete era incisiva: “Instituição camufla fraudes com discurso humanitário”. O artigo insinua vínculos suspeitos entre a fazenda, os centros terapêuticos e antigos contratos empresariais de Artur. As fotos editadas, os trechos descontextualizados e a narrativa distorcida feriam como lâminas.Lara sentou-se na beira da cama, com o celular na mão e os olhos vidrados na tela. A angústia subia pelo peito como uma maré. Gabriel dormia no quarto ao lado. O silêncio da casa só aumentava o barulho dentro dela. Poucos minutos depois, Artur entrou no quarto, ainda com os cabelos molhados da ducha matinal.— Já viu? Perguntou ele, enxugando o rosto com a t
Cortinas de FumaçaA noite caiu sobre a cidade como um véu espesso. A sede do Instituto Montenegro já havia encerrado suas atividades, mas a tensão persistia no ar como eletricidade antes da tempestade. Artur observava pela janela do escritório principal, os olhos fixos nas luzes dos postes e na névoa que subia do jardim. Ao seu lado, Reinaldo revia os relatórios com atenção silenciosa. Desde seu retorno, ele havia se tornado não só o braço direito de Artur, mas também um conselheiro atento.— As últimas denúncias foram arquivadas. Disse Reinaldo, finalmente. — Não há provas. Mas Raquel e Ronaldo não vão parar por aí.Artur respirou fundo, o maxilar tenso. — Eles querem minar nossa credibilidade, Reinaldo. —Estão atacando o que construímos com mais do que recursos: —Com amor, com verdade! —Se deixarmos que eles transformem isso em fumaça, perdemos mais do que reputação. —Perdemos vidas.Enquanto isso, Lara estava no segundo centro terapêutico, coordenado por Lisandra e Audre
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