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CAPÍTULO 3 – A PROPOSTA INACREDITÁVEL

A Proposta Inacreditável

O dia estava cinza, uma bruma leve cobria os prédios altos enquanto Artur Montenegro estacionava seu carro alugado em frente a uma escola pública de arquitetura antiga e desgastada.

 O homem que antes fora capa de revistas de negócios agora estava parado dentro do carro enquanto observava a entrada de crianças com mochilas coloridas e olhares agitados. 

Em uma folha dobrada no bolso, lia-se o nome que havia perseguido em pensamentos por dias: 

Lara Matos.

Desceu do carro como se o chão fosse estranho. As calçadas rachadas e os muros rabiscados com frases infantis e corações lembravam-no de um mundo do qual sempre esteve distante, e ele nunca pensou em se aproximar. 

Mas era ali que ela estava. A mulher que, numa noite qualquer, estendeu a mão sem pedir nada em troca.

A secretária olhou com desconfiança para aquele homem de aparência descuidada, olhar perdido.

— Posso ajudar?

— Estou procurando a professora Lara Matos.

— Assunto?

— Particular.

A mulher avaliou-o por mais um segundo antes de discar um ramal. Depois de um breve silêncio:

— Ela vai te atender no pátio. Está no intervalo.

Artur seguiu o caminho indicado até encontrar uma cena curiosa: 

Lara sentada no chão ao lado de um menino que repetia padrões com blocos de montar. Com voz suave, ela dizia:

— Isso, Leo! Muito bem, agora vamos tentar o azul?

O menino não respondeu, mas olhou para a peça azul e, hesitante, estendeu a mão.

 O gesto singelo foi suficiente para que Lara sorrisse com os olhos marejados.

Ao perceber Artur, ela levantou-se devagar, sem pressa, ajeitando a blusa branca de mangas arregaçadas. Os olhos ainda carregavam um brilho de cansaço e doçura.

— Artur?

— Oi, Lara. Acha que podemos conversar?

Ela hesitou, mas acenou com a cabeça. Guiou-o até um banco sob uma árvore frondosa.

— O que faz aqui?

— Preciso de ajuda.

Ela arqueou uma sobrancelha. Não era surpresa, de certa forma. Ele parecia à beira de algo,  talvez do fundo.

— Não tenho dinheiro. Disse ela, direta.

 — Se for isso…

— Não é isso. É… um casamento.

Lara soltou uma risada breve e seca.

— Desculpa, o quê?

— Eu preciso me casar até o fim do mês. Senão, perco tudo. A presidência da empresa, a herança, os bens. Meu pai está irredutível. Quer ver responsabilidade. Uma esposa.

Ela o olhou como se ele tivesse acabado de propor uma viagem à Lua.

— E você pensou em mim?

— Pensei em alguém real. Alguém que me viu quebrado e não virou as costas. Você é forte, é inteligente. E confesso que  me senti pequeno do seu lado. Isso é raro!

Lara cruzou os braços, firme.

— Isso é absurdo. Você está me oferecendo dinheiro pra fingir ser sua esposa?

— Um ano. Um contrato. Um milhão de reais. Sem obrigações pessoais. Só aparência.

— E por que acha que eu aceitaria?

Artur ficou em silêncio por um segundo. Então, como se puxasse coragem do fundo da alma:

— Porque eu pesquisei sobre você. Sei que você é especialista em educação especial, que trabalha com crianças com autismo. E sei sobre o Gabriel.

A dor passou como um relâmpago nos olhos dela. Aquele nome era uma ferida aberta.

— O que sabe sobre ele?

— Que era seu filho adotivo. Que tem autismo nível três de suporte. 

—Que você o criou com amor e dedicação por seis anos. 

—E que foi tirado de você pelo pai biológico e a amante dele. 

Não creio que seja por amor. Já que a criança estava sobre sua responsabilidade, Mas para te punir. Para te fazer sofrer.

Lara apertou os lábios, tentando conter a emoção. As palavras dele não eram cruéis, eram verdadeiras.

— Eles levaram o Leo pra frança. Me disseram que ele seria “melhor assistido lá”. 

Mas eu sei. Sei que ela não o suporta. Que o trata como peso. 

E mesmo assim, fizeram de tudo pra me arrancar dele. Porque eu fui a mulher que ela nunca conseguiria ser.

Artur abaixou o olhar.

— Eu  posso te trazer o Gabriel de volta.  Posso te oferecer poder. E, com isso, e bons advogados você possa lutar por ele de novo.

Lara respirou fundo, os olhos fixos em algum ponto no horizonte.

— Você está me oferecendo um casamento por interesse. Um teatro.

— Estou te oferecendo um contrato. E uma chance.

— E como vou saber se é verdade? Que você é esse tal bilionário caído?

— Hoje à noite. Jantar na casa do meu pai. Ele vai querer conhecer minha noiva. Você vai ver com seus próprios olhos.

Ela hesitou, ainda incrédula.

— Isso é loucura.

— Talvez. Mas você é a única pessoa que me faz pensar que ainda posso ser alguém melhor.

Mais tarde, ao se vestir para o jantar, Lara sentiu uma estranha firmeza no peito. 

Não era vaidade, tampouco ambição. Era como se, por um momento, estivesse tomando de volta o controle da própria narrativa.

Vestiu-se com o único vestido mais elegante que possuía: 

Azul-marinho, discreto, mas que marcava sua presença. Prendeu o cabelo, passou um batom claro e respirou fundo diante do espelho.

A mansão Montenegro era um monumento à opulência. Portões de ferro, jardim perfeitamente aparado, escadarias que pareciam saídas de um filme.

A campainha tocou, Artur estava a porta de sua casa simples com a postura impecável e o rosto mais sereno do que ela lembrava.

— Está linda.

— Está tudo certo com essa loucura?

— Está prestes a começar.

Ao chegarem na mansão Montenegro, foram recepcionados por empregados uniformizados e o olhar de um homem que impunha respeito apenas com a postura: Josué Montenegro.

— Pai te apresento Lara Matos, minha noiva!

— Seja bem vinda Lara. Então esta é a moça corajosa que aceitou enfrentar a missão de te modificar Artur?

Lara sustentou o olhar.

— Sou, senhor. E mais do que coragem, tenho limites. Respeito é um deles.

O velho Montenegro riu pela primeira vez em meses.

— Já gostei dela.

O jantar seguiu com perguntas afiadas e respostas ainda mais afiadas. 

Lara não tentou impressionar. Foi ela mesma. Falou de sua vocação, da luta pelos direitos de crianças com deficiência, e do amor por Leonardo, sem dramatizar.

Quando a noite terminou, Josué Montenegro olhou para o filho e disse, com um tom mais brando:

— Essa mulher tem mais caráter do que toda a sua geração junta. Se ainda há salvação pra você, está ao lado dela.

Lara, por sua vez, saiu com uma sensação estranha no peito. Não era vitória. Nem derrota.

Era o começo de algo que ela ainda não compreendia. Mas que, por algum motivo, não queria evitar.

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