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CAPÍTULO 2 – A CENTELHA DA IDEIA.

A Centelha da Ideia.

Perguntou ainda em pé ao lado da mulher que havia lhe ajudado a pouco. 

Ela puxou o maço da bolsa, entregou o cigarro e o isqueiro, mas continuou olhando para o nada com os olhos marejados. 

— Obrigado. 

Artur se sentou ao lado dela e enquanto compartilhavam o cigarro, contaram histórias que ainda feriam um ao outro.

O nome dela era Lara. Professora de crianças com deficiência intelectual. Recém-divorciada, o coração ainda está em pedaços. 

Contou que tinha descoberto ali que o marido com quem foi casada por oito anos tinha uma amante há cinco. 

— Ele vai levar o meu filho com eles e nem sei o que mais me machuca, se é a traição dele ou saber que fui uma idiota por tanto tempo. 

Ela jantava na minha casa, ia comigo ao shopping e eu ajudava ela escolher a lingerie que ela usaria com o namorado. 

Um sorriso amargo se misturou a lágrima. 

— O meu marido! Era o meu marido. 

Artur não tinha ideia do que dizer, achava que a criança ir com o pai era o melhor, assim Lara ficaria livre para reconstruir a vida.

 Professoras não ganham bem, ele sabia. 

Resolveu mudar de assunto. 

— Por que me ajudou?

— Porque também já estive no fundo do poço. E sei como é duro quando ninguém estende a mão.

Artur ficou em silêncio. Pela primeira vez na vida ele se sentiu pequeno. Humano!

Aquela mulher de olhos cansados, mas cheios de luz, mexeu com algo dentro dele que não sabia mais que existia.

Naquela noite, não houve sexo. Houve conversa. Troca. Verdade. Dormiram em camas separadas. 

Pela manhã, ela já não estava. Deixou um papel com o nome da escola onde trabalhava.

Artur ficou com o papel entre os dedos, olhando para o teto, sentindo uma estranha vontade de ouvir a voz dela de novo. 

Talvez pudessem ser amigos e então, lhe veio a ideia!

 

O quarto onde Artur acordou naquela manhã era pequeno, alugado por aplicativo, com paredes descascadas e um leve cheiro de mofo que insistia em permanecer, apesar das tentativas de camuflá-lo com aromatizadores de lavanda. 

Nada ali lembrava o luxo ao qual estava acostumado. Sentado na beira da cama, com o bilhete de Lara entre os dedos, ele observava o nome da escola rabiscado com uma caligrafia firme, quase maternal.

Aquela mulher o intrigava. 

Havia algo em seus olhos marejados que o perseguia desde a noite anterior. Uma mistura de dor e força. 

Um paradoxo que despertava nele um interesse raro, não o tipo carnal que ele conhecia bem, mas algo mais profundo, quase incômodo. 

Ela era real. E isso era perigosamente novo.

Ligou para Reinaldo, o  vice-presidente da Montenegro Empreendimentos. A voz do outro lado veio seca, mas ainda leal.

— Fale rápido, estou em uma reunião.

— Preciso que descubra tudo sobre uma mulher. Nome: Lara. Professora. Trabalha com crianças com deficiência.

— Artur, você está mesmo pedindo isso? Está espionando alguém agora?

— É diferente. Ela…Fez uma pausa, irritado com a vulnerabilidade que ameaçava escapar 

— Ela me ajudou.

 Isso sim é novidade.

Artur desligou antes que Reinaldo pudesse fazer piadas. 

A partir dali, seus dias passaram a ter um objetivo. Visitou a escola  de longe, observando.

 Era uma construção simples, com um jardim bem cuidado e desenhos infantis nas paredes. 

Viu Lara chegando, roupas modestas, postura ereta, cercada de crianças que corriam até ela com sorrisos abertos. Uma delas agarrou suas pernas, e ela se abaixou para abraçá-lo com ternura.

Artur engoliu em seco.

Não entendia aquele tipo de afeto. Parecia tão distante do mundo que conhecia, onde toques eram trocas de favores, e sorrisos vinham com segundas intenções.

Naquela tarde, soube do passado dela: 

O casamento, o filho adotivo que fora arrancado de seus braços por pura crueldade,  não por amor à criança, mas para puni-la.

 O ex-marido era influente, e a amante tinha conexões na justiça.

 Lara não tinha chances. Aquilo acendeu algo em Artur. 

Um sentimento que nunca ousara nomear: 

Indignação por alguém que não fosse ele mesmo.

Foi nesse momento que a ideia começou a se formar. Como uma névoa se dissipando devagar. Se ela precisava de estabilidade… e ele precisava de uma esposa…

Na mesma noite, no flat desajeitado que agora chamava de lar, Artur abriu o notebook velho que Reinaldo lhe emprestara e começou a redigir os primeiros esboços de um contrato de casamento. 

Cláusulas liberais para ele:

liberdade sexual, privacidade, 

contas separadas, ausência de obrigações conjugais. 

Para ela:

Proteção jurídica,

Uma quantia mensal generosa, 

E, se aceitasse, ele se comprometia a ajudá-la na briga pela guarda do filho.

"Não quero amor, Lara"

Pensou enquanto escrevia

"quero um acordo."

A proposta era louca, claro. Mas também era sua única saída!

Do outro lado da cidade, Lara caminhava em seu apartamento de dois cômodos.

 O silêncio era espesso, quase agressivo. Pegou a caneca  vazia que Leonardo deixara cair no chão dias antes de partir. 

Apertou contra o peito, sentindo o vazio ecoar.

A lembrança de Artur surgiu, quase como uma provocação.

 A vergonha que ele sentira, a maneira como escutou suas dores sem julgamentos.

 Diferente de todos os homens que conheceu.

Mal sabia ela, o destino não tinha terminado com os dois.

Na manhã seguinte, Artur voltou à escola. Esperou o turno dela acabar, encostado em seu carro já empoeirado, com o contrato dobrado dentro do bolso interno do paletó. 

Quando a viu, o coração,  aquele que acreditava já ter se transformado em pedra, deu um pequeno salto.

Ela arqueou as sobrancelhas, surpresa.

— Perdeu o caminho do motel, bonitão?

— Não. Perdi o caminho da sanidade mesmo. Você tem um minuto?

Ela cruzou os braços.

— Estou ouvindo!

— Preciso de uma esposa até o fim do mês. E você precisa de uma forma de lutar pelo seu filho. Tenho uma proposta pra te fazer. Mas primeiro…

Artur puxou o envelope do bolso e balançou.

— Que tal um jantar comigo? Hoje. Na casa do meu pai. Ele vai adorar conhecer minha futura noiva.

Lara soltou uma risada, irônica.

— E você acha que eu sou idiota o suficiente pra acreditar nisso?

— Não. Acho que você é inteligente o suficiente pra duvidar… e esperta o bastante pra querer ver se é verdade.

Ele sorriu. Um sorriso diferente. Humano.

E ela, contra todas as certezas que ainda tentava manter de pé, sentiu a curiosidade lhe corroer por dentro.

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