O som da chuva começou leve, quase imperceptível, como se hesitasse antes de tocar o telhado. Evelyn estava sentada na varanda, com um cobertor sobre os ombros e uma xícara de chá entre as mãos. Desde que o sol se escondeu atrás das montanhas, a temperatura havia caído, e com ela, veio um tipo de silêncio que não parecia vazio — era mais como um abraço.
Dentro da casa, Lucas preparava algo simples para o jantar. Evelyn ouvira o barulho da faca contra a tábua de cortar, o som abafado de um disco antigo girando na vitrola, e a voz de Nina Simone invadindo os cômodos com sua melancolia familiar.
Havia uma paz ali que ela não sabia que ainda era capaz de sentir.
Ela não havia dito, mas passou parte da tarde relendo as últimas páginas do caderno. A letra de Benjamin ficava mais trêmula à medida que os dias avançavam, como se as palavras lutassem para existir. Havia dor ali, claro — mas também havia aceitação. E amor. Um tipo de amor que transcendia a morte e que, de algum modo, agora ligav