O silêncio entre Cecília e Enrico naquela manhã dizia mais do que qualquer palavra poderia. A noite anterior ainda pairava entre eles como uma sombra pesada, e mesmo o café quente que ele havia preparado parecia amargo diante do que haviam escutado.

— Você não me contou tudo o que ele disse, não é? — Enrico perguntou, observando-a enquanto ela mexia distraidamente o açúcar na caneca.

Cecília hesitou. Seus olhos focaram o café como se ali estivesse a coragem que lhe faltava. Então, sem encará-lo, murmurou:

— Ele disse… que pelo menos agora eu estava me deitando na cama certa.

O som da xícara batendo contra o pires foi quase imperceptível, mas o ar entre eles ficou mais denso. Enrico demorou alguns segundos para responder. Quando o fez, sua voz saiu carregada de incredulidade e raiva contida.

— Ele disse isso? — Cecília assentiu, ainda sem encará-lo. — Que desgraçado…

Ele se levantou, passando a mão pelos cabelos, andando de um lado ao outro da sala. Queria dizer a ela o que já suspeita