Alguns dias haviam se passado desde a festa, mas a sensação de que algo dentro de Cecília tinha mudado não diminuía. Era como se um novo tipo de ansiedade tivesse se instalado — não do tipo que machuca, mas aquele que pulsa silencioso, como uma pergunta que ainda não tem resposta. As lembranças da confusão daquela noite ainda apareciam em flashes: o barulho, os rostos confusos, e depois Enrico surgindo no meio do caos, firme, decidido, protetor. Os olhos dele cravados nos seus, as mãos fortes que a puxaram dali, e o jeito como o mundo pareceu silenciar por alguns segundos. Ali, ela se sentiu segura. E, desde então, nada mais pareceu o mesmo.
Desde então Enrico passava todos os dias no bar para levá-la para a casa. Ás vezes ele entrava, encostava-se ao balcão e bebia algo. Outras encostava na porta com um sorriso discreto e dizia:
— Vamos?
E ela nunca dizia não. Na verdade, esperava por ele — mesmo que fingisse surpresa, mesmo que fizesse um esforço calculado para parecer indiferente.