Entre o instinto e a dor

O relógio marcava quase sete da noite quando Enrico ouviu a batida discreta na porta do escritório.

Ele estava de costas, observando a cidade pela janela — o céu já se misturava em tons de cinza e dourado, o trânsito formava linhas de luz contínuas lá embaixo.

Por um instante, pensou em fingir que não ouvira. Mas a voz, firme e contida, o fez se virar.

— Posso entrar?

Era o pai.

Álvaro estava de pé à porta, o mesmo terno sóbrio de sempre, mas o semblante parecia mais leve do que da última vez que se viram.

Enrico hesitou por um segundo antes de responder.

— Claro.

O homem entrou devagar, observando o ambiente — a mesa repleta de pastas, o aroma de café frio, o caos metódico que era o reflexo do filho.

Por alguns segundos, o silêncio se instalou entre eles, espesso, quase palpável.

— Faz tempo que não venho aqui — comentou Álvaro, tentando quebrar a distância.

— Muita coisa mudou — respondeu Enrico, sentando-se e indicando a cadeira à frente.

O pai aceitou o convite, mas não se apresso
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