A Escolhida do Don Autora: Ivi Santiago Ele voltou para assumir o trono. Mas antes, precisa tomar uma esposa. E ela... é tudo que ele não esperava. Giovanni Ferreti nasceu para comandar a Cosa Nostra di Velenza. O sangue da máfia corre em suas veias, mas uma tragédia o afastou do trono antes da hora. Agora, com a morte do pai, ele retorna à cidade disposto a reivindicar seu lugar — mesmo que isso signifique se prender a um casamento arranjado por sua mãe, Irina Ferreti, uma mulher tão fria quanto calculista. O que Giovanni não sabe é que a jovem escolhida para ser sua esposa não foi apenas selecionada... foi moldada. Preparada durante anos para servi-lo, encantá-lo — e talvez até destruí-lo. Irina tem planos, e a esposa do Don é peça central nesse jogo perigoso. Antonella Bellini é a caçula de uma das famílias mais influentes da máfia. Rebelde, impulsiva e dona de uma beleza indomável, ela sempre viveu à sombra dos arranjos de poder. Mas tudo muda quando o noivo da sua irmã — Giovanni — cruza seu caminho. O desejo é imediato, proibido e explosivo. E quando o destino muda as regras do jogo, ela se vê presa a um homem perigoso, encantador… e completamente fora de alcance. Neste universo de alianças mortais, promessas de sangue e jogos de sedução, o amor pode ser a arma mais letal. E A Escolhida do Don talvez não tenha escolha nenhuma.
Ler maisO peso da promesas: A noite caía sobre Velenza com o peso de uma maldição antiga.
Dentro da casa, o ar tinha gosto de passado e perfume de flores mortas. Um pacto antigo, frio e cruel, seria selado com tinta, papel... e ausência de amor.
Scarllet Bellini, aos 17 anos, era a oferenda.
No andar de cima, o som da caneta arranhando o papel quebrava o silêncio do quarto. Antonella Bellini, apenas 14 anos, escrevia em seu diário com fúria.
"Ela não é uma noiva. É uma prisioneira de luxo."
Antonella não odiava o nome que carregava. Ser uma Bellini era, sim, um símbolo de poder.
Scarllet nunca conhecera outro homem. Desde menina, sonhava com Giovani Ferreti — o herdeiro distante, o príncipe ausente. Um amor silencioso, casto, mas ainda assim real.
Aos olhos da irmã mais nova, Scarllet era um cordeiro conduzido ao abate.
Antonella, ao contrário, sempre sonhou com liberdade. Com amor selvagem, com escolhas, com gritos.
O som da maçaneta girando trouxe-a de volta à realidade.
Elena Bellini entrou no quarto como uma deusa de inverno: vestida com elegância impecável, olhos azuis cortantes, voz doce como veneno.
— Figlia mia, desça. Não nos faça esperar num momento tão… importante.
Antonella fechou o diário com os dedos trêmulos.
— Já vou… — murmurou, sem olhar para ela.
Elena a observou por um instante. Sabia. Pressentia o fogo que crescia dentro da filha — e temia que um dia ele consumisse tudo.
No salão principal, a cena era uma pintura renascentista de horror.
Irina Ferreti ocupava o centro do sofá como uma rainha não coroada.
Dom Giussepe falava pouco. Mas cada palavra era uma sentença. Pablo Bellini, inquieto, apertava os dedos como se ainda tivesse escolha.
Scarllet, sentada à beira do divã, parecia uma boneca de vitrine.
Giovani…
Seu nome era um eco. Um fantasma. Um fio de esperança em um vazio que ninguém preenchia.
Do alto da escada, Elena observava em silêncio.
A mulher sempre desejou moldar Scarllet. Domá-la. Possuí-la.
Enquanto os homens discutiam cláusulas e dotes, o advogado da Cosa Nostra digitava velozmente, dando forma jurídica à tragédia.
Então, a sala silenciou.
Antonella apareceu.
Vestia um macacão azul, cabelos soltos, pés descalços.
— Buona sera a tutti! — saudou com firmeza, sem baixar os olhos.
Irina a mirou com desdém.
— Vieni qui, piccola… a tuo zio. — A voz dele era melosa. Os olhos, predatórios.
Antonella obedeceu, o estômago revirando.
— Como vai, tio? — perguntou, com um sorriso educado que mal escondia o desconforto.
Ele beijou-lhe a bochecha. Um gesto inocente, não fosse o arrepio gelado que percorreu a espinha da menina.
— Licenza… vou ajudar mia madre na cozinha. — murmurou, recuando.
— Vai, tesouro mio. — disse Dom Giussepe, saboreando a presença dela com olhos perigosos.
Ela saiu. Sabia que não pertencia àquele salão.
Scarllet permaneceu imóvel.
Longe dali, Giovani acendia um cigarro na varanda de um hotel em Florença.
Ele não sabia do acordo.
Ele não foi embora.
E agora, o destino o chamava de volta.
Não apenas para tomar o trono de seu pai.
NARRADO POR GIOVANI FERRETIA noite era sempre o único silêncio que eu conhecia.Durante o dia, era o barulho do império: reuniões, decisões, acordos que precisavam ser costurados com o sangue que ainda escorria dos últimos conflitos.Eu comandava homens, territórios, navios e fortunas.Mas o que pesava não era a responsabilidade.Era o cansaço de ter sobrevivido a tudo.Irina estava enterrada.Pablo também.Scarllet partiu.E o passado — aquele maldito passado — começava, enfim, a desbotar.Agora, era o meu nome nas paredes.Era a minha sombra que atravessava os corredores.Zelensky. Ferreti. Bellini.Tantas linhagens, tantos fantasmas.Mas o império era meu.E estava erguido com as minhas mãos.As noites, porém, me pertenciam de outro jeito.Era nelas que eu voltava a ser apenas um homem.Não o herdeiro renegado. Não o chefe. Não o luto.Um homem deitado, com a respiração misturada à de uma mulher que me queimava desde o primeiro olhar.Antonella.A única que me olhava sem medo.Est
NARRADO POR ANTONELLA BELLINIO meu tornozelo doía, os punhos estavam marcados, e mesmo assim… eu não hesitei. Mal acomodei a minha mãe e a minha irmã no carro, pedi a Mason que me levasse até Giovani. Precisava vê-lo. Precisava entender o que viria depois de tudo.Mas quando cheguei, não estava preparada para o que meus olhos encontrariam.No pátio da velha propriedade dos Ferreti, homens… dezenas deles, estavam ajoelhados, inclinados diante de Giovani. Eram russos, italianos, alguns portavam anéis dourados com símbolos que eu não reconhecia, outros, tatuagens que gritavam “prisão”, “lealdade”, “sangue”.Giovani não dizia nada. Estava no centro como se sempre tivesse pertencido àquele lugar.Aquilo me fez parar.Engoli em seco.O ar pareceu rarefeito.Meu estômago se contorceu como se dissesse: “Esse homem, Antonella… ele agora é o centro de algo muito maior do que qualquer coisa que você conheça.”Mason permaneceu ao meu lado, observando a cena com os olhos analíticos de sempre, mas
NARRADO POR GIOVANI FERRETIApós a guerra, sempre vem o luto. Silencioso, pesado… às vezes mais cruel do que a própria guerra. Naquela noite, perdemos apenas um homem. Mas Pablo Bellini não era qualquer homem — era o pai de duas mulheres que choravam como meninas sem chão, e marido de uma viúva que nem sabia mais gritar de tanto que já havia gritado por dentro.Antonella seguia com o tornozelo torcido, partes do corpo quebrada, danificada, arroxeada. Simon me disse que se responsabilizaria por Scarllet. Ele disse com convicção, como quem acredita estar fazendo o certo. Mas eu não quis me meter. Não seria eu a repetir os erros do velho Bellini — empurrar filhas como peças num jogo de xadrez que só homens acham que entendem.A madrugada foi longa. Tensa.Irina… minha mãe… estava no meio do salão, usando um vestido vermelho como uma estrela cadente caída do céu errado. Abraçada a Scarllet, que chorava sem parar. Antonella apoiava a mãe, mas os olhos dela — aqueles olhos — estavam cheios
NARRADO POR ANTONELLA BELLINIA noite mergulhou em completo silêncio após retirarem o corpo, Irina sair do quarto. — Tem certeza que não era ele. — Abri os olhos visando a escuridão em que somente o sapato dourado de Scarllet reluzia. — Tenho. — Respondi sentindo o meu corpo reclamar. — E como tem? — A minha irmã insistiu. — O conheço, sei cada linha daquele de cor, cada tatuagem, cada cicatriz, é como um mapa seja nas palmas da minha mão e na minha mente. — Respondi com a voz baixa, completamente dolorida. O silencio ecoou, o nosso pai estava quieto. — Papai? — O chamei por medo. — Estou aqui. — Ele nunca me deixou toca-lo, eu tive dois anos para conquista-lo, como eu ia fazer isso, se ele nem me olhava. — O Giovani perdeu uma irmã, como você, ele odeia pedófilos, pessoas que gostam de mulheres e crianças infantilizadas, nunca te tocaria, a menos se você amadurecesse. — Esse casamento nunca daria certo, a Irina te transformou em tudo que o proprio filho não gosta. — Constatou
NARRADO POR GIOVANI FERRETIAinda me incomodava ter Simon e os homens dele ao nosso lado. A presença deles, a postura calculada, o cheiro de poder emprestado. Mas era necessário. O sangue corria de todos os lados, e aliança, às vezes, era questão de sobrevivência.Quando ele sugeriu forjar meu corpo — simular minha morte —, falou com convicção de que isso encerraria a guerra.Irina teria o que tanto queria: poder.Ava continuaria segura nas montanhas, protegida por Antoni.Pablito nos braços dela.E os homens de Seattle cruzavam a fronteira naquela noite. Precisavámos de reforços, todos o que me serviram com exceção de Matteo estavam do outro lado. Tudo parecia caminhar para o fim. Mas o inferno não fecha as portas com promessas.E então, ao amanhecer, ela entrou.Scarllet.Entrou. Mas não saiu.Foi ali que entendi: cada dia que passava, o tempo se tornava um carrasco.Ela estava lá.Antonella.E eu sentia… que estava sofrendo.Eu sabia.Não há silêncio que tape esse tipo de dor.Naq
NARRADO POR ANTONELLA BELLINIO cheiro de ferrugem, mofo e urina seca me acompanhou desde que me jogaram no porta-malas daquele carro escuro. Somente de calça jeans, blusa vermelha de mangas compridas, e botas, tinha sido o look escolhido aquela manhã para ir ao esconderijo com Ava e Pablito.Não sabia onde estava. Só sabia que era frio. E russo, notei pelo idioma. Fui tirada de lá com mãos ásperas me puxando pelos cabelos. Gritos numa língua que não compreendia, eu os odiava, desde que chegaram a San Marino, desde o idioma não tem humor. Quando me penduraram de ponta cabeça no meio de um galpão escuro, a única coisa que fiz foi morder a língua e calar.— Onde está o garoto?— Que garoto?A primeira surra veio com gosto, socos no estômago, tapas, choques nas costelas.Não respondi.Continuei com a história que criei, mas a minha mente ainda seguia aquele caminho, uma parte de mim ainda estava atrás daquela mulher loira, correndo com os meus filhos nos braços, chorando assustado, eu
Último capítulo