Narrado por Giovani Ferreti
Não era o planejado retornar à cidade em meio a mistérios, conhecendo-a, respirando-a, descobrindo quem eram meus inimigos e o que deveria fazer.
Era uma noite de sexta-feira, e enquanto olhei para o relógio dourado em meu pulso, as lembranças de quando era garoto corriam por aquelas ruas, guiado por seguranças que, apesar de seus esforços, pouco podiam fazer. Oito sequestros ocorreram ao longo dos anos, as torturas e mutilações que testemunhei me transformaram em um sobrevivente; para meu pai, eu era um covarde.
— Não deveria visitar sua mãe antes de sair para a noite? — perguntou Antoni, puxando-me de volta à realidade. Fitei o horário marcado no meu relógio, estando bastante tarde, a noite beirava ao fim.
— Quem lhe disse que estou buscando diversão a esta hora? — retruquei, mas seu sorriso vago me fez duvidar da minha própria certeza. Antoni é meu melhor amigo, e me conhece tão bem quanto eu, mesmo.
Ele se afastou em direção ao carro. — Vou estacionar. Vá andando, já o sigo.
Respirei profundamente. Eu não queria ir diretamente para o casarão dos Ferreti; adoraria passar alguns dias absorvendo a atmosfera local. Segundo Pablo, a cidade estava entregue à baderna, e os inimigos faziam o que queriam.
Caminhei pensativo e lentamente, ponderando se talvez fosse o melhor a se fazer: observar as ações dos inimigos. "Mais uma vez esgueirando-se como um covarde?" Uma voz interna questionou-me, soando como se fosse meu pai. Respirei fundo. Talvez agir como um covarde fosse, de fato, o melhor caminho, neste momento.
Até que ouvi risos e vozes baixas. A viela à minha frente era escura. Ergui os olhos, notando que um grupo se aproximava. As vozes se tornavam cada vez mais audíveis, e as risadas, mais altas.
— Espera, docinho, por que não podemos levá-la para casa? — uma das vozes soou com mais força.
Continuei olhando para frente, até que, ao chegar ao final da curva da viela, uma mulher trombou contra meu peito. Seu corpo frágil e trêmulo esbarrou no meu, e, sem pensar, a segurei, percebendo que ela cambaleava para trás. Olhei fixamente para os homens que a perseguiam, agora em fuga.
Esses eram os baderneiros de quem Pablo havia falado? Um grupo de moleques, eu esperava mais dos homens do meu pai, os encarei diretamente, vendo-os correr sem destino. A raiva crescia em meu interior ao ver os homens se dispersando, olhei novamente para a mulher abaixo de mim, percebi que ainda estava próxima.
Desci os olhos, sentindo o cheiro adocicado e cítrico que emanava dela. Seus olhos verdes me encararam amplamente, o nariz fino e arrebitado, a boca ligeiramente trêmula. Ela tentou se afastar, mas eu a segurei com leveza, mantendo-a perto de mim, havia uma doçura em meio a tormenta em seu olhar, algo questionável, os lábios rosados marcantes, tudo em seu perfeito encaixe.
Embora a sua aparência simples, delicada, logo percebi a sua fragilidade em minhas mãos.
— Você está bem? — perguntei, observando sua paralisia enquanto me olhava. Era raro alguém manter o olhar fixo em mim; geralmente, as pessoas desviavam o olhar. Poucas palavras sairam da sua boca, com pouca agilidade, a acompanhei correr pela viela sem olhar para trás. — Tem certeza que não está a procura de diversão noturna?
A pergunta do meu amigo ecoou, me fazendo deixar de olha-la, a mulher de estatura baixa, magra parecia bastante fugaz, em seu vestido claro. — Não deveria brincar com as mulheres por aqui, lembre-se que...
Antoni recitava um dos seus absoletos conselhos, sem sentido. — Não estava brincando, aliás, acredito que eu a salvei. — Indiquei ao olhar para a direção em que os fujões correram, e com a sabedoria que possui, Antoni olhou também, arqueando uma das sobrancelhas, seguimos para um bar com uma placa um pouco luxuosa.
Lembrava-me de ver meu pai entrando nele algumas vezes, mas ao caminhar na direção da porta, a musica alta que vinha de dentro, denunciava que houve mudanças no local. As portas de madeira foram abertas, revelando duas mulheres de pé, uma mulher de cabelo escuro, como uma indiana, traços finos, usando uma lingerie vermelha com cinta liga, a saia redonda ao redor do seu quadril, apenas um adorno, já que nada cobriam.
Seus lábios vermelhos, revelando um sorriso, embora isso não destacasse tanto, como o seu par de seios expostos. — Boa noite cavalheiros. — Ainda olhava para a morena, quando a ruiva pôs a mão em meu peito surgindo a minha frente, sua vestimenta mudava pouca coisa da outra. — Boa noite belas damas.
— Parece que nada muda por aqui! — Antoni rugiu ao meu lado, enquanto os olhos castanhos da bella dama cruzaram-se aos meus, fugindo em seguida, a sua mão passeando em meu terno, a explorar o meu corpo, a medida que descia, sorri vago. — O que vão querer?
Fomos questionado logo na recepção, enquanto a mão lisogeira vasculhou-me sorrateiramente a procura de algo valioso, a maneira que a palma percorre o meu abdomem, a encaro diretamente. O bar havia se tornado um ponto de máfia, mas qual dela?
Observei o bar em todos os ângulos, enquanto Antoni simplesmente passou por ambas, ignorando-as aos poucos fui lhe seguindo, ainda sendo esbarrado por mulheres.
Caminhamos em direção ao balcão, juntamente de um silêncio ensurdecedor de homens presentes, que nos observavam a distancia, apenas a musica tocavam, enquanto mais mulheres semi-nuas se exibiam em cima do palco, pole-dance, juntamente a estes homens ainda se moviam.
o La Trattoria del Vento, não me parecia mais o mesmo que me recordava, mostrando-se desconfiados a turistas e visitantes, eu e Antoni nos sentamos sendo encarados por diversos angulos, um clima tenso se formava no ambiente.
Não havíamos feito nada, até que a ruiva que nos recebeu na chegada, apressou-se em direção ao homem sentado no sofá, cochicando algo em seu ouvido, o individuo careca acompanhado de homens a sua volta, mas também de mulheres, usando um terno bege, nos encarava, mas de certa maneira o seu olho direito mantinha-se mais fixamente a mim.
A ruiva lhe disse algo, algo que eu já sabia perfeitamente ser sobre nós, o que o fez ainda me olhando retirar a sua mão na pistola sorrateiramente. — Estamos em paz, amico. — Antoni disse erguendo as mãos. — Tudo que queremos é beber algumas doses e descansar. — Avisou o meu amigo, e pelo olhar desconfiado, não saberia dizer se eles acreditavam no que ele diz.
— Em paz. — Afirmei o encarando na mesma direção, e em seguida virei-me para o bar, vendo o garçom a esperar qualquer sinal.
— Veja-me um Negroni Scuro, por favor. — O homem barbudo, já parecia ter recebido um sim, mas parou a mão ao me ouvir dizer, esta era a bebida que eu sempre tomei, por ser algo que o meu pai sempre bebera, engoliu em seco. — Negroni scuro? — Assenti, no início não era algo fácil de beber, mas logo se tornou o meu vício.
O incomodo se tornava algo comum, pelas garrafas sobre o balão oposto, notei que a predominância era somente uisques, de vários tipos, o barman encarava-me duramente por segundos e após um novo engoli em seco, já não sabia o que ele iria dizer. — Um uisque amigão.
Antoni soltou, com um sorriso fácil, o homem virou-se a indicar o balcão. — Escolha qual o seu. — Disse friamente. — Irei preparar o seu drinque. — Afirmou, nos dando as costas.
Já havia experimentado em vários lugares, mas neste me parecia ter um gosto especial, como uma caça do que provaria a minha masculinidade questionada por meu pai. — Não exagere na bebida, a tia não vai gostar de tê-lo bêbado em casa. — Meu amigo alertou-me.
— Não sou de exagerar em bebidas, ainda mais em lugares inflamáveis. — Soltei, vendo o se servir do seu uísque, balançando a cabeça até sorri.
— De fato, não fomos bem recepcionados por aqui. — Os olhares em nossa direção haviam até diminuido, mas eu não havia parado de observar para todos os lugares mesmo na sexta dose, notando que o comércio havia se tornado algo fraco no local, todos pareciam venerar o homem careca sentado acompanhado por mulheres e por mais que houvessem mulheres nuas, convidando ao ato.
Nada tão imprópio acontecia por ali, um bar sobre pressão, conclui observando a cada movimento. As mulheres após conquistar seus clientes, subiam a escada de madeira, um tipo de laje adaptada de madeira, o que me fez olhar para cima, desconfiando que neste exato momento deveria haver alguém conquistando seu clímax neste exato momento acima da minha cabeça.
Continuei a beber juntamente com Antoni, e embora não demostrasse interesse alguém em mulheres, exceto a sua Elise, sua noiva, haviam mulheres interessadas em seu dinheiro na carteira. Bebemos por um longo tempo, sendo madrugrada quando subi com um mulher ao quarto.
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— Oh oh isso! — Os gemidos, juntando-se a gritos e sussurros da dama contra a cama, exigiam mais de mim, o prazer dominava-me a medida que de joelhos, a minha frente na cama, senti seu corpo morver-se mais, o calor abrasador vindo da sua boca, segurando os seus cabelos em minha mão, a outra forçando a sua cintura contra mim.
A penetrei mais e mais vezes com força, lhe sentindo cortocer-se mais, movimentos frequentes com certa brusquidão que a fizeram estremecer. — Aí aí, eu vou... eu... — Assenti, pouco satisfeito, estava desejando um corpo italiano e aquele não parecia ser nem de longe, mergulhado no prazer que a sua quentura me proporciona, ainda mais ao apertar-me mais para dentro de si. — Sim, sim, goze! — Gemi roucamente, permitindo-a.
— Oh oh céus! — A mulher gritou entre lágrimas, enquanto a penetrei mais e mais amparando-a nas fraqueza de suas pernas. O seu sexo me encharcando sutilmente, enquanto a segurei lhe vendo ir de vez ao delírio, o seu corpo tremia contra o colchão, a sua respiração ofegante intensificou-se ainda mais.
Saboreei a sensação de preencher os meus pulmões com a mais pura essencia do lugar, olhando em volta, notando o quarto de pouco conforto, paredes claras com papel de parede, quase cinzentas, pouco moveis a vista, a minha visão ainda embarçada pela bebida e tesão, me trazia prazer momentâneo.
Após alguns instantes apreciáveis, vesti a minha calça, enquanto a observei deitada na cama. — Vai demorar por aqui, bonitão? — A pergunta surgiu naturalmente, mas sabia perfeitamente que não era. — depende, porque? — Indaguei ajeitamentando o meu cinto.
Ela sorriu com o batom borrado mais abaixo do queixo, os dentes amarelados. — Faz tempo que alguém não me satisfaz desta maneira, adoraria...— Eu ri, era a explicação mais tosca possivel.
Lhe vendo caminhar de quatro na cama, vindo até mim. — Deseja estar comigo outras vezes? — Indaguei, lhe vendo chegar a minha frente, seus cabelos escuros, ondulados, bagunçados, e pela aproximação acariciei. — Vai voltar? — Gemeu em busca de apoio em meu peito.
— Se o seu chefe deixar. — Sugeri, lhe vendo apoiar-se contra o meu peito, soltando a respiração profunda. — O Moretti só quer dinheiro, ele não se importa com quem vem ou vai. — Disse pouco feliz, pude perceber uma certa angustia em sua voz, mas não era meu problema. — Então eu volto, docinho! — Disse alisando o seu cabelo.
A mulher ergueu o rosto a me olhar, e como sempre, acariciei a ponta do seu queixo. — O que você faz da vida? — Indagou me olhando até não permanecer mais. — Empresário, baby. — Sorriu olhando para o chão de maneira, eu já havia conseguido o que queria no momento, a soltei, terminando de me vestir. — Quanto te devo? — Peguei a carteira a espera da resposta.
— 130 EUROS. — Contei duas cédulas de cem, lhe dando em seguida, pareceu surpresa ao ver, lhe dei as costas, deixando-a para se vestir, não estranhando que logo estivesse novamente em busca de um novo cliente, desci os degraus, notando que o tal Moretti já não estava mais lá, desta vez, Antoni sentado a minha espera no sofá, com uma mulher a insistir lhe parecia lhe dá nos nervos.
— Finalmente! — Saltou praticamente ao me ver, colocando o seu celular no bolso, olhei em volta, notando que o bar já estava mais que vazio, apenas o barman me olhava com certa curiosidade, trocamos um olhar sutil, ele não era do tempo do meu pai, presumi durante a noite, pelo menos, não quando eu vi com ele.
— Já pagou a conta? — Perguntei ao meu amigo, que assentiu. — Sim, já esta tudo certo, mas a esta hora...— Olhou para o relogio, e sempre previsivel, eu sabia perfeitamente o que ele iria falar.
— Não vamos para casa, precisamos nos acomodar por uns dias. — O informei ganhando a porta, o vento fresco da madrugada que também partia, bateu em meu rosto, juntamente ao cheiro de esgoto, sujeira que estas ruas me cheiram.
Fomos para o hotel, Antoni meio inconformado com a minha decisão. Não quis explicar que primeiro desejo saber quem são estes "inimigos" que tanto Pablo diz, se fossem aqueles moleques na viela, ou o tal Moretti, não parecia ser algo a se preocupar.